Um conjunto de investigadores e académicos da Universidade de Coimbra, incluindo museólogos, antropólogos, historiadores e o diretor da Biblioteca Geral, criaram um grupo de trabalho para, “até ao final do ano”, entregar à reitoria um documento sobre o “património sensível” da instituição ligado às antigas colónias e proceder, quando for o caso, à reparação e restituição colonial. Esta terça-feira, ao jornal Público, um dos investigadores responsáveis por este grupo, Walter Rossa, garante que o “ponto-chave” do trabalho e da redação do documento é a “descolonização da universidade”, um assunto considerado “pendente” e que é uma preocupação cada vez mais “global a transversal”.
Prometendo “produzir conhecimento antes de atuar” e ouvir, claro, os países de onde esse património (na ordem dos milhares de objetos) é originário, os investigadores asseguram que a muito discutida e polémica restituição, no sentido da devolução de bens, não tem de estar em cima da mesa e prometem apenas seguir as melhores práticas de outros países.
“Restituir não significa embalar as peças e mandá-las de volta. O desafio é a universidade revisitar as suas colecções e actualizar o conhecimento sobre elas. Estamos a querer assumir isto como um grande projecto de investigação dentro da própria universidade”, explica ao Público Walter Rossa, afirmando ser importante reconhecer “a origem” e a “violência” que o colonialismo representou no período a que remonta.
Por ocasião das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, as declarações do Presidente da República, que ali reconheceria a responsabilidade de Portugal por “crimes” cometidos durante a era colonial — sugerindo mesmo o pagamento de reparações pelos erros do passado —, suscitaram um grande debate na sociedade e política nacionais.
O Chega acusou Marcelo Rebelo de Sousa de “trair os portugueses” e pediu ao chefe de Estado que se retratasse pelas suas declarações, agendando também, em maio, um debate de urgência no parlamento para que o Governo esclarecesse se estava a ser equacionada, ou não, a atribuição de eventuais “indemnizações” às antigas colónias. O projeto de resolução propondo um processo contra Marcelo por traição à pátria levou à criação de uma comissão especial no Parlamento, que rejeitou existirem “quaisquer indícios da prática dos crimes” indicados pelo partido de André Ventura.