Chama-se "O Labirinto do Atum", foi produzido para a RTP e terá a sua estreia televisiva este domingo, a partir das 18 horas, na RTP2, durante o programa Bombordo. O filme teve a colaboração de vários conhecedores e conta a história do atum e da sua captura, levada a cabo durante séculos ao longo das costas algarvia e andaluza. Co-realizado por João Romão e Vico Ughetto, o começa com uma conversa ao almoço - no restaurante Coração da Cidade (em Vila Real de Santo António) - entre três grandes conhecedores da história do atum: o historiador Hugo Cavaco, o empresário Dâmaso Nascimento e o director fabril Miguel Socorro.
Esta conversa será o ponto de partida para uma viagem através de antigos e recentes complexos de pesca e indústria do atum no Sul de Portugal e de Espanha. Tendo sempre como base o diálogo entre autênticos especialistas na matéria, o documentário apresenta gravações efectuadas em duas fábricas, a de Dâmaso do Nascimento (em Vila Real de Santo António) e uma outra localizada em Isla Cristina (Espanha), com explicações dos seus proprietários em relação aos processos de trabalho para produzir as várias especialidades do atum, entre as quais a apreciada muxama. Refira-se que, actualmente, Dâmaso do Nascimento é o único produtor destas especialidades em Portugal.
No Algarve, os antigos arraiais Ferreira Neto e "3 Irmãos" (hoje adaptados ao turismo), em Tavira, foram outros dos cenários escolhidos. Em Espanha, e além de Isla Cristina, foram captadas imagens nas ruínas dos antigos arraiais Nova Umbria (perto de Cartaya, na província de Huelva) e de Sancti Petri (na província de Cádis), que deram emprego a muitos emigrantes algarvios na primeira metade do século XX.
A banda sonora, da autoria de João Aguardela (ex-Sitiados e actualmente no projecto A Naifa), tem a curiosidade de integrar vários temas com trecho de cantigas espanholas cantadas na década de 1930 no arraial de Sancti Petri. Mais curioso ainda é o facto destas cantigas serem interpretadas por Fernanda da Costa, uma ex-operária fabril que também participa no documentário com os seus depoimentos.
Entre os vários testemunhos, destaque também para os de Bouanani Ali e Bouanani Mohamed, capitão e pescador de uma almadrava (armação de pesca do atum) de Tânger (Marrocos), que recordam os tempos em que muitos algarvios trabalhavam nas fábricas de conservas daquele país.
Um parto difícil que durou três anos
O projecto foi apresentado à RTP2, em 2005, e aquela estação pública disponibilizou-se de imediato a exibi-lo e a financiá-lo parcialmente. Porém, este apoio revelou-se insuficiente.
Os responsáveis tentaram ainda conseguir algum tipo de subsídio junto do ICA (Instituto do Cinema e do Audio-visual) e de Faro - Capital Nacional da Cultura 2005, mas em vão. "Decidimos então reformular o projecto, reduzir a equipa e procurar pequenos apoios entre entidades públicas do Algarve", conta João Romão, explicando que os apoios obtidos foram os das direcções regionais da Cultura e da Agricultura e Pescas, bem como os das câmaras municipais de Vila Real de Santo António e Tavira. "Mesmo com as recusas das entidades ligadas ao turismo, considerámos ter meios suficientes para concretizar o projecto", refere o realizador da obra.
Com um tom carregado de ironia, João Romão frisa que "também foi interessante verificar que nenhuma entidade privada apoiou o projecto, apesar de terem sido contactadas as principais empresas de conservas do país, as que ainda se dedicam à pesca do atum no Algarve e na Andaluzia, bem como diversas empresas e organizações hoteleiras".
Depois de confirmados os apoios, o trabalho de elaboração do documentário (captação de imagens, edição e pós-produção) decorreu ao longo de um ano, tendo ficado concluído já este ano. De acordo com João Romão, a ideia de realizar o documentário surgiu da "necessidade de valorizar um importante elemento da história do Algarve", bem como de "dar visibilidade a um determinado património histórico e cultural que está em vias de extinção".
Após a estreia televisiva do próximo domingo, o documentário será apresentado publicamente uma semana depois, dia 8 de Novembro, às 16h00, no Centro Cultural António Aleixo, em Vila Real de Santo António, no âmbito de uma iniciativa promovida pela recém-criada Confraria do Atum. O filme também já começou a ser apresentado em diversos festivais de cinema documental, em Portugal e no estrangeiro.