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Algarvios investigam poluição sonora no mar

Quatro jovens fundaram uma empresa (das primeiras a nível mundial) de equipamentos para detectar e medir a poluição sonora subaquática.

Sofia Cavaco Silva/Jornal do Algarve

O Algarve conta com uma nova empresa que cria produtos relacionados com a detecção de sons e a sua transmissão na água. Com aplicações possíveis tanto na área da protecção ambiental como na área recreativa ligada à água, os equipamentos da MarSensing pretendem invadir o mercado a nível internacional. Criada em Dezembro de 2007, a MarSensing nasceu da vontade de quatro jovens da Universidade do Algarve (UALG) que quiseram passar os seus conhecimentos para a vertente comercial.

Ligados há algum tempo ao Laboratório de Processamento de Sinal da Faculdade de Ciência e Tecnologia, da UALG, Cristiano Soares, Friedrich Zabel, Celestino Martins e António Silva dizem que foram vários os factores que fizeram nascer a coragem de se lançarem para o mundo dos negócios. "Não podemos ser estudantes a vida inteira, é preciso pensar na vida real", sublinhou um dos responsáveis da MarSensing, Cristiano Soares. A ideia consolidou-se quando começaram a perceber que da investigação que realizavam conseguiam avançar para coisas palpáveis e de aplicação prática.

"Também foi um pouco por necessidade de criação do próprio emprego, porque o Algarve tem uma economia muito virada para o turismo e é muito baseada em empresas que prestam serviços a outras que operam nesse ramo de actividade. Em termos de indústria e, especialmente para absorver emprego com este tipo de qualificação, é difícil... Então, para não ter de emigrar, só criando o próprio emprego", acrescentou Cristiano Soares.

Os jovens empresários esperam também ter formado a empresa no momento certo, já que têm consciência de que só agora começam a surgir intenções e directivas a nível europeu na área da poluição sonora sub-aquática. Só no passado mês de Dezembro é que a Comissão Europeia aprovou a primeira directiva que reconhece o ruído submarino como uma fonte de poluição que deve ser controlada.

A mesma directiva define metas gerais de qualidade ambiental nesta área que devem ser atingidas até 2020, apesar de ainda não estarem definidos os parâmetros, os níveis médios e máximos de ruído subaquático aceitáveis. "Esperemos que o momento em que decidimos criar a empresa seja feliz, porque se fala e começa-se a sentir necessidade de fazer algo nesta área". Um sinal dessa necessidade crescente está no facto dos "estudos de impacto ambiental já obrigarem a uma monitorização da contribuição de uma determinada actividade, em termos de ruído subaquático" reforçou Cristiano Soares.

Este tipo de estudos e monitorizações é uma das vertentes a que a MarSensing pretende dar resposta com os seus equipamentos, mas o leque de serviços e de aplicações são mais vastos. A medição do impacto sonoro subaquático produzido por explorações petrolíferas, o impacto gerado por conversores de energia das ondas ou a monitorização do ruído produzido nos portos são outras das possibilidades.

Diversificar, investigar e ir além fronteiras são pontos-chave

Confiantes da aceitação dos seus produtos e serviços no mercado, os jovens empresários recordam que, ainda antes da criação do negócio, foram contactados pela Pescanova para monitorizarem o impacto sonoro da instalação de um projecto de aquacultura em Mira. Um trabalho que irão realizar, pelo menos, nos próximos quatro anos, de acordo com o contrato estabelecido.

Contudo, para que a necessidade se torne efectiva, é preciso que sejam estabelecidos quais os níveis máximos e médios aceitáveis de ruído suba-quático, à semelhança do que já acontece no mar. Esta é uma das áreas que terá de ser definida em breve, para que o trabalho realizado, pelos equipamentos desta empresa e das suas similares, a nível mundial, possa ser mais eficaz e cada vez mais requisitado.

"Hoje, sabe-se que o ruído gerado junto à costa em determinadas condições se pode propagar a grandes distâncias porque o som no oceano propaga-se muito bem". E aponta um exemplo: "Existem relatos de baleias que foram avistadas em zonas do oceano onde supostamente não existem. Isto tem de ser interpretado como uma fuga ao ruído produzido por determinada actividade, ou mesmo pânico seguido de desorientação" explicou o investigador e empresário.

Ainda em fase de testes e afinações finais dos protótipos que têm vindo a desenvolver, os responsáveis do MarSensing querem agora começar a divulgar a empresa e perceber o interesse demonstrado por este tipo de trabalhos. Convictos de que estes serviços e produtos pouco comuns podem dar resposta às necessidades existentes em empresas de todo o mundo, o MarSensing pretende estender os seus serviços, pelo menos, a nível europeu.

Conscientes de que este tipo de empresas de base tecnológica levam alguns anos a ganhar espaço e sustentabilidade, a MarSensing vai apostar em diferentes produtos, alguns deles mais dirigidos para a área turística. Além das bóias de detecção de sons, garantiram a representação de um equipamento que permite a transmissão de som subaquático. Um equipamento que deverá ter particular interesse em espaços dirigidos para o turismo e para o desporto aquático. Escolas de mergulho, piscinas de empreendimentos turísticos ou de desportos como a natação sincronizada são alguns dos pontos onde este aparelho pode ter aplicação e interesse.

Por enquanto a empresa não dispõe de um espaço físico, mas está a ser divulgada através de um site na Internet: www.marsensing.com. A médio prazo, os jovens empresários pretendem ter um local próprio que deverá ser proporcionado pela Universidade do Algarve e pelo Centro Regional de Inovação do Algarve.