novobanco Cultura
Coleção em diálogo com o território
"Levar a cultura onde ela faz a diferença é uma missão que esta parceria entre o novobanco Cultura e o Museu da Covilhã possibilitou"
Regina Gouveia, VEREADORA COM O PELOURO DA CULTURA NA CÂMARA MUNICIPAL DA COVILHÃ
DESDE AGOSTO DE 2021, a Covilhã tornou-se guardiã de um núcleo de pintura portuguesa do século XX. Num mesmo espaço, reuniram-se obras de Maria Helena Vieira da Silva, Arpad-Szenes, Júlio Resende, Malangatana e Eduardo Malta, artistas maiores da arte da centúria passada, hoje acessíveis num território que durante décadas esteve afastado das grandes rotas culturais. O Museu da Covilhã afirma-se assim como um polo de referência da Beira Interior, capaz de aproximar comunidades locais de um património artístico que antes parecia reservado às capitais.
Mas a Covilhã é apenas um dos exemplos mais visíveis de um amplo movimento. Ao longo dos últimos anos, cinco museus da Beira Interior receberam em depósito obras da coleção de pintura novobanco Cultura, no âmbito de um projeto de descentralização que procurou não apenas difundir arte pelo território, mas criar diálogos entre acervos locais e nomes consagrados da pintura nacional e internacional.
“Nunca hoje pareceu tão necessário estimular museus comprometidos com o presente”, afirmou Suzana Menezes, então diretora regional da Cultura do Centro e uma das principais promotoras do projeto na região.
De paisagens naturalistas do século XIX e XX em Gouveia a naturezas-mortas barrocas em Castelo Branco, passando pelo colorido festivo de Manuel Cargaleiro no Fundão ou a diversidade moderna reunida na Guarda, estas obras vieram enriquecer artisticamente o interior do país.
SÉCULOS DE FUTURO NO MUSEU DA COVILHÃ
A chegada de obras de Vieira da Silva, Arpad-Szenes, Júlio Resende, Malangatana e Eduardo Malta ao Museu da Covilhã constituiu um marco sem precedentes na afirmação cultural da região. Resultado de um protocolo celebrado em 2021 com o novobanco, este depósito permitiu que a Covilhã se tornasse a nova casa de um conjunto artístico que cobre mais de meio século de criação, entre 1950 e 2001, e que testemunha a diversidade das linguagens plásticas do século XX: da relação entre figuração e abstração explorada por Vieira da Silva e Szenes, à poética intimista de Resende, às tensões do colonialismo e à transculturalidade de Malangatana.
O conjunto inclui ainda uma pintura rara de Eduardo Malta, natural da Covilhã, que reforça o elo entre a cidade e um dos seus filhos artísticos mais destacados.
Para Regina Gouveia, vereadora da cultura na Câmara Municipal da Covilhã, a presença deste núcleo é uma oportunidade de fruição, mas mais do que isso, é um “gesto poderoso de descentralização e um incentivo à sensibilização para a arte, com efeitos duradouros no território e nas suas comunidades”, que coloca a Covilhã no mapa da arte contemporânea portuguesa e lusófona e cria centralidades fora dos grandes núcleos urbanos.
“Foi encetado um caminho de transformação deste interior do país num espaço vibrante de arte, reflexão e pertença. O Museu da Covilhã cumpre um propósito maior: tornar a arte acessível a todos, sem exceção”, acrescenta a vereadora.
NOVOS HORIZONTES EM GOUVEIA
“Que obras fazem sentido em cada museu?”, questiona Suzana Menezes, refletindo sobre as forças orientadoras da integração de várias peças da novobanco Cultura que se encontram em coleções museológicas da Beira Interior.
Em Gouveia, o Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta acolhe desde 2019 três pinturas naturalistas de grande valor: “Paisagem com Rebanho”, de Tomás da Anunciação (século XIX), “Vista provável das cinco serras” (1910), de Artur Loureiro, e “Paisagem com lago e patos” (século XX), atribuída a José de Souza Pinto.
A integração destas obras permitiu abrir um diálogo entre tradições pictóricas e sensibilidades atuais, conectando os visitantes com temas ligados à natureza, à vida rural e à serra da Estrela.
A própria localização do museu reforça esta afinidade: os horizontes serranos, a água e o ar puro ecoam nas paisagens retratadas, criando um ponto de encontro entre território, história e memória cultural.
“O impacto não se esgota no acesso”, remata Suzana Menezes, que ainda esclareceu: “Tivemos a preocupação de que o projeto não fosse uma mera ‘distribuição de obras’ pelo território”.
Segundo Suzana Menezes, com a articulação das Direções Regionais, estabeleceu-se como missão “um acesso qualificado à arte. Foi dessa convergência de propósitos que resultou a força transformadora do projeto”.
Margarida Noutel, diretora do museu, reforça este ponto: “Foi exatamente por isso que o museu aceitou o desafio proposto pelo novobanco: são pinturas com as quais a comunidade local se identifica, que a aproximam do seu museu, reforçando o sentimento de pertença e a sua identidade cultural”.
MAIS MUSEUS DA BEIRA INTERIOR:
DIVERSIDADE E DIÁLOGO ENTRE SÉCULOS
Além da Covilhã e de Gouveia, outros três museus da região acolhem obras de relevo da coleção novobanco Cultura.
No Museu Francisco Tavares Proença Júnior, em Castelo Branco, destaca-se a “Natureza morta com jarrão de flores e papagaio” (século XVII), atribuída a Jan Fyt.
“A Direção Regional da Cultura Centro apoiou ativamente este projeto”, reiterou Suzana Menezes, “porque só colocando a arte em diálogo crítico com os territórios e com as comunidades é que se cumpre a função transformadora do museu.”
No Fundão, A Moagem – Cidade do Engenho e das Artes integra “Festas de São João” (1981), de Manuel Cargaleiro, e a tapeçaria homónima da Manufatura de Fortunato Silvério.
Já no Museu da Guarda, cinco obras do século XX enriquecem o acervo: “Natureza morta XXV” (1967), de Nikias Skapinakis; “Sem título” (1968), de João Hogan; “3 Fetiches” (1992), de José de Guimarães; “Coladera” (1994), de Júlio Resende; e “Papa morto” (século XX), de José Pinto Coelho.
Estes depósitos criam um diálogo vibrante entre épocas, estilos e linguagens artísticas, reforçando a ideia de que a arte pode transformar o território e fomentar novas experiências estéticas junto das comunidades.
COLEÇÃO NOVOBANCO EM VIAGEM
MUSEUS A VISITAR NA BEIRA INTERIOR
Castelo Branco
Museu Francisco Tavares Proença Júnior. Jan Fyt (atribuído), “Natureza morta com jarrão de flores e papagaio” (séc. XVII)
Fundão
A Moagem – Cidade do Engenho e das Artes. Manuel Cargaleiro, “Festas de São João” (1981) e da Manufactura de Fortunato Silvério, a tapeçaria “Festas de São João” (1981)
Covilhã
Museu da Covilhã. Eduardo Malta, “Grandeza do meu pequeno grande manequim” (1950); Vieira da Silva, “Composition” (1970); Arpad-Szenes, “Sem título” (1982); Júlio Resende, “Pássaros” (1983) e Malangatana “Sem título” (2001)
Gouveia
Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta. Tomás da Anunciação, “Paisagem com rebanho” (séc. XIX); Artur Loureiro, “Vista provável das cinco serras” (1910) e José de Souza Pinto, “Paisagem com lago e patos” (séc. XX)
Guarda
Museu da Guarda. Cinco obras do século XX: Nikias Skapinakis, “Natureza morta XXV” (1967); João Hogan, “Sem título” (1968); José de Guimarães, “3 Fetiches” (1992); Júlio Resende, “Coladera” (1994) e Luís Pinto Coelho, “Papa morto” (séc. XX)