A gigante sabedoria política de Mário Soares aguentava quase tudo, mas se algum dia lhe tivessem dito que a reedição do seu livro “Portugal Amordaçado”, no âmbito das comemorações do seu centenário, seria palco para o último encontro público entre um primeiro-ministro que se sentiu forçado a demitir-se e um Presidente da República que vê questionarem as condições para se manter em funções, Soares talvez tivesse que coçar o sobrolho (coisa que adorava fazer) antes de largar uma das suas tiradas históricas: “Nós democratas não tememos o futuro porque acreditamos no caminhar da História.”