De visita à Bélgica, onde viu cancelado o seu encontro com o primeiro-ministro belga na sequência do ato terrorista de segunda-feira em Bruxelas, mas onde permanecerá nos dias previstos - “o Estado não pode aceitar que ações criminosas questionem o seu funcionamento normal”, afirmou - Marcelo Rebelo de Sousa deixou avisos contra “uma ou duas tentações”.
À primeira, decorrente da ação terrorista do Hamas em Israel e da morte de dois cidadãos suecos em Bruxelas às mãos de um tunisino que se terá afirmado “combatente de Alá”, Marcelo chamou “tentação de um espírito de alarme constante”. E contrapôs-lhe duas certezas: a de que “ninguém pode garantir que não há terrorismo em qualquer ponto do mundo", sendo certo, no entanto, que “as estruturas europeias estão hoje preparadas com condições de segurança muito mais sofisticadas para prevenir” o terrorismo.
A segunda tentação referida pelo Presidente da República é a de acreditar que há culpas coletivas de determinados povos, cenário que rejeitou liminarmente. “Não há culpas coletivas”, enfatizou, recusando-se a “dar o salto imediato” do que se passa “numa ponta do mundo” para atos terroristas que acontecem em todo o mundo. E “também não daria o salto de identificar” esses atos “com determinadas categorias de pessoas”, o que apontaria para a tal “culpabilidade coletiva”.
Antecipando o aproveitamento por parte dos “populismos”, a que Portugal não estará imune, o Presidente da República alertou que correm “videos e análises nas redes sociais em que a realidade parece uma, mas é outra”. E deixando claro que “o terrorismo é sempre condenável”, defendeu que “no caso português não faz sentido nenhum fazer especulações ou projeções de fenómenos de imigrantes para estabelecer cenários” de terrorismo.
Dos 700 mil migrantes existentes em Portugal “a esmagadora maioria é de países de língua oficial portuguesa”, informou o Presidente, admitindo que grupos mais recentes oriundos da Ásia não põem em causa um ambiente geral “em que há comunidades de imigrantes com grande estabilidade no nosso país”.
Sobre a posição da União Europeia relativamente à situação no Médio Oriente após o ataque do Hamas a Israel e a previsível retaliação israelita em Gaza, Marcelo Rebelo de Sousa foi cauteloso. Recusando-se a comentar a polémica ida da Presidente da Comissão Europeia a Telavive antes de estar alinhada uma posição da União, Marcelo apenas disse que “a UE está a fazer um esforço para aparecer com uma voz única” e sublinhou ser “muito importante” que essa voz única seja mantida.
“A UE teve uma voz única na pandemia, na Ucrânia e está agora a definir uma posição”, afirmou, reafirmando ser “muito importante que a Europa tenha uma posição comum porque é isso que interessa aos europeus” para que a Europa assuma o seu papel de “poder de equilíbrio com peso à escala global”.