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IL propõe círculo nacional de compensação com 40 deputados: “Há um Portugal de segunda” que não pode ser “silenciado”

Liberais deixam repto ao PS e PSD: para que olhem para a proposta “sem hipocrisia” e aprovem na generalidade, manifestando “total abertura” para alterações na especialidade

TIAGO MIRANDA

Para que “todos os votos contem”, a Iniciativa Liberal (IL) propõe a criação de um círculo nacional de compensação nas eleições legislativas, com 40 mandatos, com vista a evitar milhares de votos desperdiçados. A proposta – que era uma das promessas dos liberais – foi apresentada esta quarta-feira pelo presidente, Rui Rocha, e o líder da bancada, Rodrigo Saraiva, no Parlamento e deverá ser agendada depois do Orçamento do Estado.

“Portugal tem hoje cidadãos de segunda em matéria de representação política: há um Portugal de segunda, que vive esquecido, abandonado, silenciado em matéria de representação politica. O círculo de compensação que apresentamos é uma proposta aberta, que cria mais igualdade de oportunidades e traz mais valor à democracia”, afirmou Rui Rocha, em conferência de imprensa, num palanque com a frase ”votos que contam."

Segundo o líder liberal, o panorama do interior do país corresponde a uma “espécie de ciclo vicioso”, onde há menos habitantes, “com menos voz”, “menos serviços públicos” e “investimento”. A alteração do sistema eleitoral com a introdução do círculo de compensação, defendeu, visa dar voz e representação política a um número alargado de cidadãos, o “Portugal esquecido”. “Não resolve obviamente os problemas, mas é um primeiro passo, um passo importante a que se devem juntar outras medidas”, acrescentou.

Apontando para os 730 mil votos desperdiçados nas últimas legislativas e os oito milhões de votos deitados ao lixo desde o início da democracia, Rodrigo Saraiva considerou, por sua vez, que a proposta contribuirá para a garantia de “mais pluralismo” e “combate à abstenção” no país. “A nossa proposta de círculo de compensação sugere 40 mandatos para eleger. Vamos replicar o modelo que existe nos Açores, que foi aprovado por unanimidade", explicou o líder da bancada da IL, frisando que a proposta mantém os 230 mandatos e teve como base vários exercícios face aos números das eleiçoes anteriores.

O problema dos votos desperdiçados fica mitigado. Quase todos os círculos terão que ceder mandato ao círculo de compensação”, observou.

Rocha lançou ainda um desafio ao PS e PSD para que olhem para a proposta liberal “com abertura, sem hipocrisia” e aprovem na generalidade, manifestando ”total abertura" para alterações na especialidade. “Quem inviabilizar não quer melhor democracia e representatividade. Afirmamos total disponibilidade para discutir esta proposta”, afiançou.

Questionado sobre quem saíria mais beneficiado e prejudicado com esta alteração da lei eleitoral, o líder liberal reconheceu que o partido elegeria mais três deputados mas quem ganharia mais nas últimas legislativas seria o CDS-PP que não teria perdido a representação no Parlamento. “Eu próprio poderia não ser eleito por Braga, podia ou não ser pelo círculo de compensação. Isso é o exemplo mais evidente que esta não se trata de uma proposta egoísta”, atirou.

Com este sistema eleitoral, o PS também não teria alcançado a maioria absoluta e, por outro lado, o RIR teria eleito um deputado. Os socialistas conquistavam 101 lugares no Parlamento, os sociais-democratas 71 lugares, o Chega 17, a Iniciativa Liberal 11, a CDU e o Bloco 10, o CDS-PP, PAN e Livre três, e o RIR um.