Legislativas 2024

Montenegro atingido com tinta verde por ativista pelo clima: partidos criticam “ataque”, líder do PSD apresenta queixa

Presidente do PSD e líder da Aliança Democrática foi atingido durante a manhã, à chegada à Bolsa de Turismo de Lisboa, onde o indivíduo que atirou a tinta foi detido pela PSP. Montenegro vai formalizar queixa ainda nesta quarta-feira. Em reação, vários líderes partidários condenam o sucedido

ANDRE KOSTERS/Lusa

O presidente do PSD, Luís Montenegro, foi atingido por tinta verde atirada por um ativista pelo clima à chegada à Bolsa de Turismo de Lisboa, na Feira Internacional de Lisboa (FIL), no Parque das Nações, durante a manhã desta quarta-feira.

Logo de seguida, Montenegro reagiu dizendo que “pontaria não faltou” e que “queria lamentar este episódio”. “Tenho todo o respeito, mas se a ideia era transmitir-me a preocupação que todos devemos ter com as alterações climáticas”, então “era mais fácil termos conversado sobre isso”, afirmou.

O líder da Aliança Democrática defendeu depois a herança histórica da própria coligação e lembrou a aprovação da lei de bases do ambiente, em 1987, aí já com Cavaco Silva ao leme. E recordou também a proposta de criar um Conselho de Ministros especializado no tema da transição climática. “Por mais tinta que me atirem, continuarei no mesmo caminho”, garantiu Montenegro, ainda encharcado em tinta.

Questionado sobre as declarações de Nuno Melo, que deu a entender que havia um partido por trás deste protesto, o líder do PSD respondeu que está empenhado na resolução do problema e que não pretende que “o debate político ande sempre à volta de pequenos casos”.

A PSP confirma, em comunicado, que foi “intercetado e detido” o indivíduo que atirou a tinta, tendo ainda sido “apreendida a lata de tinta utilizada para cometer o ilícito criminal”. A PSP explica ainda a razão pela qual não conseguiu intercetar essa pessoa: apesar de ter detetado “um grupo de indivíduos com comportamento suspeito, tendo-se vindo a apurar que pertenciam a uma organização ambientalista”, houve um que se antecipou à polícia e consumou a ação.

“Desse grupo, 4 indivíduos foram abordados de imediato, os quais tinham sua posse 1 lata de tinta que foi apreendida. Todavia, um dos indivíduos desse grupo não foi monitorizado em tempo, motivo pelo qual conseguiu atingir o líder da Aliança Democrática com tinta verde, bem como outros membros da comitiva”, conclui o comunicado.

Poucas horas depois, e também em visita à Bolsa de Turismo de Lisboa, o Presidente da República considerou que os ataques com tinta já perderam a eficácia, embora sublinhando que a luta climática “é boa” e que a manifestação é um direito que assiste a todos em democracia.

Líderes condenam “ataque”

O secretário-geral do PS ainda não estava a par do sucedido mas, quando questionado, optou por condenar a situação. “Condeno qualquer protesto em contexto de campanha democrática. Temos de saber respeitar. Os partidos estão a fazer legitimamente as suas campanhas. Temos de respeitar. E depois o povo expressa a sua intenção de voto”, declarou Pedro Nuno Santos. O socialista deixou um lamento e um apelo, até porque está também numa caravana que anda nas ruas: “Lamento profundamente e acho que não se deve repetir.”

A coordenadora do Bloco de Esquerda escreveu na rede social X (antigo Twitter) que “o ataque de hoje ao PSD é um ataque à liberdade na campanha eleitoral e portanto à democracia”. “Se os autores desta ação alegam uma causa justa, então são os piores defensores dessa causa”, considera Mariana Mortágua.

O líder da Iniciativa Liberal reagiu na mesma rede social, defendendo que “quem usa formas de protesto que possam atentar à integridade física está a legitimar as forças mais extremistas da sociedade, contribuindo para atacar a democracia e a Liberdade”. “Inaceitável e contraproducente para as causas que dizem defender”, aponta Rui Rocha.

Mais tarde, aos jornalistas, disse que os atos “não são aceitáveis” e que transmite “total solidariedade para com o líder do PSD”. “Eu próprio estive num debate, no final da semana passada, onde estavam todos os líderes e que já foi um grave atentado à liberdade e à democracia”, lembrou ainda, numa referência ao debate entre todos os partidos com assento parlamentar, na RTP.

À entrada para um almoço em Viana do Castelo, André Ventura considerou a situação “lamentável”. “O que aconteceu hoje, espero que não volte a acontecer nesta campanha. Este tipo de ações não deve continuar com a impunidade que temos visto contra vários políticos”, disse o líder do Chega. “Se nos atirarem com tinta, não vamos debater mais temas por fazerem isso, e dá um sinal à sociedade de que são atos legítimos contra candidatos. Nenhum político aceita debater sob chantagem”, acrescentou.

Também o porta-voz do Livre lamentou o incidente e defendeu uma adequação entre os fins e os meios no combate pelas causas. “Em primeiro lugar lamento e desejo que não volte a acontecer, que não aconteça a outros candidatos”, afirmou Rui Tavares, que falava em Vila Real. O candidato do Livre desejou que a “campanha seja feita sem incidentes, sem nenhum tipo de problemas físicos de nenhum candidato de qualquer partido que seja” e sem “qualquer violação do seu espaço físico ou pessoal”.

“Achamos que toda a gente que é ativista de uma causa, que ama a causa pela qual luta tem também a responsabilidade de pensar sempre sobre a adequação entre os fins e os meios, porque quanto mais ama essa causa mais quer que todos os seus concidadãos sejam atraídos para lutar também por ela”, afirmou à margem de uma ação de campanha na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Já porta-voz do PAN lamentou o protesto, mas mostrou-se solidária com a “frustração dos jovens que vão pagar a fatura climática”. “O PAN não tem qualquer ligação a estes movimentos da sociedade civil. Respeitamos a independência e autonomia destes movimentos”, garantiu Inês Sousa Real, em Carcavelos. “Ao invés de atirar tinta e estarmos a discutir esta ação, seria importante estarmos a discutir as políticas ambientais de cada força política”, defendeu.

Montenegro apresenta queixa

Entretanto, Montenegro anunciou que vai formalizar ainda nesta quarta-feira uma queixa contra o ativista que o atingiu e agradeceu as manifestações de solidariedade. “Vou formalizar ainda hoje essa queixa”, afirmou, questionado pelos jornalistas à chegada a um almoço com pescadores e apoiantes na Costa de Caparica, distrito de Setúbal.

Já sem vestígios da tinta verde que lhe derramaram para a cabeça, Montenegro chegou com um pequeno atraso ao almoço, depois de ter cancelado um contacto com a população em Almada, devido ao episódio desta manhã.

Questionado se está recuperado, o presidente do PSD respondeu que “parcialmente” e criticou a natureza do protesto. “Para ambientalista, o protesto não foi muito amigo do ambiente, obrigou-me a estar mais de uma hora debaixo de água só para tirar do corpo, e do cabelo sobretudo, os resquícios da tinta utilizada”, explicou.

“Tenho a pele irritada no rosto e no pescoço, mas seguiremos”, disse. Questionado se o episódio pode condicionar ou desmobilizá-lo na campanha, respondeu negativamente. “De maneira nenhuma. Pelo contrário, se contribuiu é para me motivar.”

Já sobre as reações de alguns partidos, que lamentaram o caso, Montenegro disse querer agradecer as “manifestações de solidariedade que vieram de todos os quadrantes possíveis e as centenas de mensagens de pessoas”, a que pretende responder durante a viagem para Évora durante a tarde.