Defesa

Submarino Arpão navega pela primeira vez debaixo do gelo Ártico em missão da NATO

O almirante Gouveia e Melo presidiu às cerimónias do envio de duas forças para o norte da Europa: 146 fuzileiros partem para a Lituânia no âmbito de uma missão da NATO; e o 'Arpão' vai ser o primeiro submarino nacional a navegar por baixo do gelo Ártico, no âmbito de outra missão da Aliança Atlântica, que visa dissuadir "quem pensa" que pode estender o conflito além da Ucrânia.

Submarino "Arpão", da Marinha Portuguesa, atracado na Base Naval do Alfeite
NUNO BOTELHO

Lusa

O 'Arpão' vai ser o primeiro submarino nacional a navegar por baixo do gelo Ártico, no âmbito de uma missão da NATO no Atlântico Norte que visa dissuadir "quem pensa" que pode estender o conflito além da Ucrânia.

O submarino, com uma guarnição de 36 militares, partiu esta quarta-feira da Base Naval de Lisboa, situada em Almada, distrito de Setúbal, rumo à operação 'Brilliant Shield', da Aliança Atlântica.

Aos jornalistas, na cerimónia de despedida, o Chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Henrique Gouveia e Melo, salientou que esta missão "tem uma importância elevada" para a Marinha porque é a primeira vez que um submarino português vai operar "por baixo do gelo Ártico".

"Vamos operar numa zona que é a entrada normal de navios opositores dentro do Atlântico, que de alguma forma faz uma barreira a essa entrada no Atlântico", explicou.

Depois de no verão do ano passado o Arpão ter passado 120 dias numa missão no Atlântico Sul, na primeira vez que um submarino nacional cruzou a linha do Equador, agora a Marinha quer mostrar aos Aliados que consegue operar num cenário oposto, debaixo de gelo.

Além disso, afirmou Gouveia e Melo, "Portugal com este tipo de missão responde 'presente' a quem tenha intenções e acredite que tem a possibilidade de agredir a NATO, agredindo também a Europa".

"Estas missões dão um sinal muito claro de dissuasão a quem pensa que poderá estender o conflito além do que está a acontecer na Ucrânia neste momento", avisou.

O comandante da missão, o capitão-de-fragata Taveira Pinto, apontou que o submarino vai navegar até uma zona desconhecida e à qual os submarinistas não estão habituados, que terá características diferentes quanto à "densidade da água, da coluna da água, da propagação do som".

"Isso obrigou-nos a um planeamento e a um estudo pormenorizado. Não o fizemos sozinhos, fizemos com os países aliados, nomeadamente os Estados Unidos da América, o Canadá e a Dinamarca para irmos mais bem preparados", frisou.

Na guarnição vão três alunos do curso de submarinista, entre eles o engenheiro naval Daniel Santos Baptista, de 24 anos, que parte pela primeira vez numa missão.

Daniel Santos afirmou que a sua preparação é "definitivamente mais mental" do que física, nomeadamente no que diz respeito ao "conhecimento da plataforma e de procedimentos de segurança".

"Neste momento estou na parte da formação, portanto, estou a aprender o máximo sobre o submarino, sobre a vida a bordo", afirmou.

Mais experiente, a sargento Paula Oliveira, 39 anos, visivelmente emocionada, afirmou que as missões preparam-se todas "com o mesmo rigor", onde quer que sejam.

"A única diferença aqui é o desconhecido, é aquilo que nós não sabemos que vamos encontrar", sublinhou a militar, uma das duas mulheres a bordo.

A sargento é responsável pelo sistema de combate e garante que "tudo está a funcionar inclusive os sonares" que são os "olhos" do submarino quando está submerso.

Na cerimónia estiveram vários familiares dos militares que hoje partiram em missão.

O regresso está marcado para o dia 19 de junho.

CEMA alerta que Europa "não vive tempos normais" perante força de partida para a Lituânia

O chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) alertou que a Europa "não vive tempos normais"perante uma força de 146 fuzileiros que partem na quinta-feira para a Lituânia no âmbito de uma missão da NATO.

"Engane-se quem julga que vivemos tempos normais, nós não vivemos tempos normais. A Europa não vive tempos normais", avisou o almirante Henrique Gouveia e Melo na cerimónia de despedida da força de fuzileiros que vai participar numa missão de dissuasão da Aliança Atlântica na Lituânia, país que faz fronteira com o enclave da Federação Russa, Kaliningrado.

Segundo o CEMA, existe um "perigo iminente sob o nosso modo de vida, do Estado de Direito baseado em regras e liberdades individuais, do estado democrático e de um modo de vida ocidental".

"O que vocês vão fazer é reafirmar a vontade de Portugal e dos europeus de não se deixarem vencer, de não serem pura e simplesmente gente amorfa em que um agressor nos possa vir impor as suas ideias, a sua autocracia, a sua ditadura e a sua violência", defendeu.

Na sua intervenção, Gouveia e Melo citou ainda o antigo primeiro-ministro inglês Winston Churchill.

"Churchill, durante a II Guerra Mundial, disse uma vez que era preciso haver homens rudes capazes de visitar a violência durante a noite para que outras pessoas pudessem dormir descansadas. Vós sois esses homens rudes", afirmou o militar.

Em declarações aos jornalistas, o comandante da missão, capitão-tenente fuzileiro Nuno Correia Marques, afirmou que esta "representa o reafirmar não só da Marinha portuguesa, mas também de Portugal no seu espaço da Aliança Atlântica e no seu compromisso com a mesma".

No terreno, estes militares vão "trabalhar com as Forças Armadas lituanas em atividades de treino e exercícios combinados e também com os outros aliados que se encontrarem na zona".

A missão realiza-se de 04 de abril a 02 de julho.