O caso que envolve o ex-secretário de Estado da Defesa Marco Capitão Ferreira, constituído arguido há uma semana por corrupção e participação económica em negócio, está a escalar politicamente com a aprovação de uma audição conjunta da ministra da Defesa, Helena Carreiras, e do ex-ministro João Gomes Cravinho, atual ministro dos Negócios Estrangeiros. Deverá ser, sobretudo, Cravinho a ter de explicar aos deputados o imbróglio do processo dos contratos de manutenção geral dos helicópteros EH-101 (cuja esquadra assegura as missões de busca e salvamento), que se mantiveram num limbo ao longo de meses sem contrato nem visto do Tribunal de Contas (TdC). Foi para dar assessoria à renegociação desse contrato com o fabricante — que nunca chegou a entrar em vigor —, que Marco Capitão Ferreira recebeu €61,5 mil, sem que a Polícia Judiciária tivesse encontrado provas materiais do serviço prestado em apenas cinco dias.
A ministra da Defesa anunciou esta semana, a partir da Cimeira da NATO, em Vílnius (Lituânia), que pediu ao Tribunal de Contas uma auditoria à idD Portugal Defence, a holding das indústrias de Defesa, empresa que foi liderada por Marco Capitão Ferreira entre 2020 e 2022, antes de ir para o Governo (e que tem dois anos de apresentação de contas em atraso). A auditoria, sabe o Expresso, poderá alargar-se às empresas desse universo, de que faz parte a OGMA (onde o Estado tem 35%) e cujas contas a empresa não publicita, recusando-se a fornecer os relatórios ao Expresso. Helena Carreiras, que ainda não se pronunciou sobre o caso, terá de explicar aos deputados por que razão chegou a dizer, antes das buscas judiciais da passada sexta-feira, que já tinha a “informação sobre o contexto e os processos relativos a essa assessoria” realizada por Capitão Ferreira em março de 2019 — e que levou o Ministério Público a constituí-lo arguido por suspeitas de corrupção e participação económica em negócio no âmbito da operação Tempestade Perfeita.