O fim do “não é não” – a recusa de Luís Montenegro em estabelecer aproximações e alianças ao Chega – é “um erro grave, com consequências muito graves”, alerta José Luís Carneiro, num artigo de opinião na edição deste domingo, 20 de julho, do jornal Público.
Referindo-se especificamente às alterações às leis que regulam a imigração, o secretário-geral do Partido Socialista acrescenta que estas terão “graves consequências no país e nas nossas relações com os países de expressão portuguesa” e que o primeiro-ministro torna-se, assim, “corresponsável (…) pelos incidentes de ódio que possam vir a acontecer.”
Para o líder do PS, as alterações às leis da imigração – um "grave retrocesso civilizacional, que impedem o reagrupamento familiar e prejudicam a integração dos imigrantes, e que atentam contra os direitos humanos e contra a Constituição – foram feitas “de mãos dadas com o Chega com total desprezo pelo papel das entidades que poderiam, e deveriam, emitir parecer num assunto de tamanha sensibilidade”.
“O ‘não é não’ – tão repetido na campanha eleitoral – passou à História. A primeira marca deste Governo foi dar à extrema-direita uma inimaginável vitória política e cultural, que terá graves consequências no país e nas nossas relações com os países de expressão portuguesa. Com essa atitude - lamento dizê-lo - o senhor primeiro-ministro tornou-se corresponsável pelo ambiente inamistoso que os imigrantes começam a encontrar por toda a parte e pelos incidentes de ódio que possam vir a acontecer”, disse.
“O Governo fez e fará as suas escolhas. Mas cabe-lhe explicar porque é que traiu as promessas que fez aos eleitores, entra elas o “não é não”. É um problema do Governo e da AD, mas este é o tempo para o avisar que está a cometer um erro grave, com consequências muito graves”, declara.
Carneiro termina o artigo dizendo que “não tinha de ser assim”: o seu partido estaria disponível para entrar em diálogo com o Executivo para “alcançar no Parlamento a maioria que os eleitores não quiseram dar a ninguém”.