Política

Pedro Nuno Santos atira Sá Carneiro contra Montenegro: "A política sem ética é uma vergonha"

Líder do PS diz que "suspeitas" sobre a Spinumviva são de que não prestou serviços ao grupo Solverde ou então o fez a "preços muito elevados". E diz que a moção de confiança que o Governo apresentou é, na verdade, "um pedido de demissão cobarde" já que Montenegro sabia há muito que seria chumbada pelo PS

TIAGO MIRANDA

O líder do PS voltou a assegurar esta segunda-feira à noite, entrevistado na SIC, que vai votar contra a moção de confiança ao Governo que o Parlamento discutirá nesta terça-feira. Essa moção - disse - "é na verdade um pedido de demissão cobarde" porque há muito que Luís Montenegro "sabe de antemão" que seria chumbada pelo PS se fosse apresentada.

Recordando que há um ano começou a avisar que o PS votaria contra uma moção de confiança, o líder socialista somou a este argumento que a "crise dos últimos dias acrescentou motivos" para a chumbar.

No entender do líder socialista, a única razão que levou Montenegro a avançar para a moção de confiança foi o facto de o PS ter avançado com uma comissão parlamentar de inquérito (CPI). Recordou, neste contexto, que até se ouviram ministros (como o das Finanças) dizer que o Governo não avançaria para a moção de confiança sendo chumbada (como foi, devido à abstenção do PS) uma segunda moção de censura (a do PCP).

Para Pedro Nuno Santos, "as suspeitas [sobre Montenegro] são graves", nomeadamente de que não existiram de facto serviços prestados pela Spinumviva (empresa criada por Montenegro em 2021) ao Grupo Solverde ou então que esses serviços foram prestados "a preços muito elevados". Para Pedro Nuno Santos, os factos apontam para a possibilidade de Montenegro ter mantido a empresa viva só para continuar a receber avenças mesmo sendo já primeiro-ministro. Ou seja, o país pode ter um primeiro-ministro "que não é livre" nem tem "autonomia" face a "alguns empresários".

Assim, disse, a comissão de inquérito que o PS vai criar no Parlamento irá também exigir documentos que provem que os serviços foram prestados - sendo precisamente por ter poder para isso que o PS avançou desta forma e não com perguntas escritas ao PM, como fizeram o BE e o Chega. "A comissão parlamentar de inquérito é o único instrumento que permite ter acesso a prova documental, mapa de horas dedicado ao trabalho, o relatório do trabalho que foi feito, as interações, os e-mails. Isto é, as provas que provam que, de facto, há trabalho que justifique as avanças que são pagas", justificou. Referiu ainda o caso de a Spinumviva ter ganho de uma empresa 238 mil euros quando depois essa mesma empresa revela resultados líquidos em 2022 de apenas 13 mil euros - sendo que, além do mais, segundo Pedro Nuno Santos, Montenegro não tem conhecimentos enquanto advogado para conduzir reestruturações empresariais.

Falando assim em "exemplos claros" de que o caso aponta para a "atuação de um primeiro-ministro sem ética", o secretário-geral atirou contra o atual chefe do Governo uma frase de Francisco Sá-Carneiro: "A política sem risco é uma chatice e sem ética é uma vergonha".

Questionado pela jornalista Clara de Sousa sobre os riscos que ele próprio corre agora com novas legislativas no horizonte, caso as perca de novo, Pedro Nuno Santos repetiu a frase: "A política sem risco é uma chatice e sem ética é uma vergonha."

Refutando os argumentos segundo os quais o PS, como o Bloco ou o Chega, deveria também ter apresentado perguntas por escrito a Montenegro, o líder socialista disse que o PS fez várias "perguntas orais" no Parlamento e que essas "valem tanto quanto as perguntas escritas".

Afirmou, por outro lado, que aquilo em que assenta o "crescimento do populismo" é precisamente a forma como o primeiro-ministro tem atuado ao "atirar para debaixo do tapete os problemas". "É clarificar, é discutir, é apurar. E neste momento já não há resposta escrita, não há resposta oral que resolva a suspeita que só é resolvida se nós conseguirmos ter acesso às provas, aos documentos que comprovam que o trabalho foi realizado", insistiu, assegurando também, novamente, que o PS prosseguirá com a CPI na próxima legislatura.