Política

Santa Casa: Ana Jorge está “desiludida” pela forma “rude, sobranceira e caluniosa” como foi exonerada pelo Governo

Numa carta enviada aos trabalhadores da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa a que o Expresso teve acesso, a provedora garante ainda que a seu tempo irá responder em sede própria para contar a “verdade”.

Ana Jorge (foto: TIAGO PETINGA/LUSA)

Ana Jorge diz-se “desiludida” pelo “comunicado emitido pelo Ministério do Trabalho” que a exonerou do cargo de Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML). Numa carta enviada aos trabalhadores da instituição, a que o Expresso teve acesso, a provedora qualifica de “rude, sobranceira e caluniosa” a justificação para o seu afastamento. “Sempre achei e hoje mais do que nunca, que em política, tal como na vida, não vale tudo”, lê-se no documento, onde se assegura que passou por 11 meses “muito duros” e que tinha desenhado “um plano de reestruturação sólido” que seria implementado.

Ana Jorge e os restantes elementos da mesa da SCML foram hoje exonerados dos seus respetivos cargos, e Rosário Palma Ramalho (ministra do Trabalho) e Luís Montenegro (primeiro-ministro) justificaram a decisão com “atuações gravemente negligentes”, argumentando que isto sucede pela “ausência de um plano de reestruturação financeira, tendo em conta o desequilíbrio de contas entre a estrutura corrente e de capital, desde que [Ana Jorge] tomou posse até agora”.


Para Ana Jorge, a história não termina aqui, garantindo que “a seu tempo e em sede própria” irá contar a sua “verdade”, “que é a verdade de quem serviu a SCML com a mesma entrega e espírito de missão” com que desempenhou “as várias funções públicas e cívicas” ao longo da vida. Ana Jorge foi ministra da Saúde e presidente da Cruz Vermelha Portuguesa.

Leia a carta na íntegra:

Caras e caros colaboradores
Recebi - confesso que com surpresa - a minha exoneração do cargo de Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, função que assumi há menos de um ano.

Antes de mais, foi uma honra, claro, servir esta casa.

Mas foram 11 meses muito duros, em que, claramente, avançámos rumo à sustentabilidade financeira, à motivação dos colaboradores e mais importante, no compromisso social que assumimos com milhares de pessoas.

É por isso - pelo tanto trabalho, desenvolvido em tão pouco tempo e pelo plano de reestruturação sólido que desenhámos e que queríamos implementar - que hoje não me sinto tão triste. Por isto, só por isto.

Porém, o comunicado emitido pelo Ministério do Trabalho é, pela forma rude, sobranceira e caluniosa com que justifica a minha exoneração, motivo para me sentir desiludida.

Sempre achei e hoje mais do que nunca, que em política, tal como na vida, não vale tudo.

Mas, enfim, a seu tempo e em sede própria, contarei a minha verdade, que é a verdade de quem serviu a SCML com a mesma entrega e espírito de missão com que desempenhei as várias funções públicas e cívicas ao longo da minha vida.

Uma última palavra para todos os colaboradores da SCML. Não houve tempo para fazermos o que estava planeado, mas, por favor, não desistam da SCML, que necessita de cada um de Vós para cumprir a sua ação junto dos mais vulneráveis.

Muito obrigada a todos.