O ministro dos Negócios Estrangeiros não se quis alongar esta segunda-feira sobre a proposta do Presidente da República de que é necessário uma “reparação” às ex-colónias. Aos jornalistas em Bruxelas, Paulo Rangel evitou dar mais explicações, remetendo para o comunicado do executivo deste fim de semana, mas acabou por sublinhar que o Governo de que faz parte não está a ter uma visão diferente da que tiveram governos anteriores, nomeadamente o de António Costa. "É uma visão que está alinhada com a visão dos governos anteriores. Nada se alterou", garantiu.
O assunto está a ser tratado com cuidado pelo executivo que se agarra ao guião do comunicado escrito. O ministro recusou em primeiro lugar comentar as declarações do Presidente da República. "Eu não vou comentar o Presidente da República", afirmou Paulo Rangel, insistindo que "a posição do Governo" sobre o tema "é claríssima" e remetendo praticamente todas as questões dos jornalistas para o comunicado de sábado.
"Não há nada a acrescentar, essa é posição do governo", respondeu à saída de uma conferência em Bruxelas, apontando para o que considera ser um "comunicado de uma clareza cristalina".
No comunicado, o Governo diz que "não esteve e não está em causa nenhum processo ou programa de ações específicas" a propósito "da questão da reparação" aos Estados que foram colónias de Portugal.
Questionado sobre se este é um debate extemporâneo, o chefe da diplomacia responde que "nenhum debate numa sociedade livre é extemporâneo, todos os debates são pertinentes". No entanto, deixa claro que o atual Governo não pretende promovê-lo.
Quanto à intenção do Chega de o ouvir na Assembleia da República, responde que irá "ao Parlamento sempre que tiver de ir" e responderá "com o maior gosto". Já sobre o voto formal de condenação a Marcelo, prometido pelo partido de André Ventura, diz que isso "não merece resposta".
Sem resposta fica também a pergunta sobre a posição da ministra da Cultura quanto à devolução de obras às ex-colónias. Em novembro do ano passado, quando era diretora do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém, admitiu numa entrevista ao Observador, que se tivesse de devolver peças a países de origem, por questões de reposição história, "devolvê-las-ia". "É fundamental assumir o imperativo da restituição de bens apropriados, independentemente das condições da sua receção", afirmava.