Política

Operação Influencer: esquerda exige "explicações" da PGR, direita pede "cautela" antes de "decisões finais"

Mariana Vieira da Silva, Mariana Mortágua ou Ana Catarina Mendes pedem explicações à Procuradora-Geral da República sobre a decisão do Tribunal da Relação

TIAGO MIRANDA

Os novos desenvolvimentos da Operação Influencer vieram recuperar e ampliar críticas ao Ministério Público (MP) por parte de figuras socialistas, mas não só. Horas depois do Tribunal da Relação de Lisboa concluir que não existem, até agora, indícios de crimes e ter tirado as medidas de coação aos arguidos, a ex-ministra socialista Ana Catarina Mendes exigiu “explicações” e “responsabilidade” ao MP. Também Mariana Vieira da Silva, antiga ministra da Presidência, repetiu o pedido de “esclarecimentos” e insistiu que António Costa seja ouvido sobre o caso. Ainda à esquerda, também Mariana Mortágua considerou que estes novos factos tornam “ainda mais necessário” que o MP explique ao país o “quadro da investigação, o seu âmbito e duração”.

O Tribunal da Relação avançou que ainda não existem provas de pressão do ex-primeiro-ministro para acelerar o projeto do Data Center de Sines. E que o alegado “plano criminoso” defendido pelo Ministério Público não passa de “um conjunto de meras proclamações assentes em deduções e especulações". “O único facto concreto protagonizado pelo primeiro-ministro foi ter estado presente num evento de apresentação do projeto”, concluiu a desembargadora Cristina Almeida e Sousa.

A conclusão desta investigação é especialmente relevante para António Costa já que lhe retiraria o maior obstáculo no caminho para a eventual presidência do Conselho Europeu. O próprio Presidente da República considerou ser “mais provável haver um português no Conselho Europeu” a partir do momento que foi conhecido o acórdão do Tribunal da Relação.

Em direção contrária esteve André Ventura que criticou a “espada sobre o tribunal” para que o desenlace da Operação Influencer permita que o ex-primeiro-ministro consiga o lugar em Bruxelas. Também Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal, pediu “cautela” enquanto ainda não são conhecidas as “decisões finais” sobre a investigação.

Ana Catarina Mendes exige “explicações” e “responsabilidade” ao Ministério Público

A antiga Ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares do executivo de António Costa foi uma das primeiras a reagir aos mais recentes desenvolvimentos de Operação Influencer. “O Ministério Público deve explicações aos portugueses. Porque derrubou um Governo e um Parlamento, como se levantam suspeitas e se coloca em causa o bom nome das pessoas? Isto é gravíssimo em Democracia, já o tinha afirmado aqui há meses”, escreveu na rede social X (antigo Twitter).

Ana Catarina Mendes saudou a “posição de estadista” do ex-primeiro-ministro ao pedir a demissão após ser incluído no comunicado da Procuradoria-Geral da República. “Hoje, exige-se um esclarecimento do MP sobre o que aconteceu! Os cidadãos têm que ter confiança nas Instituições”, reiterou. Além das “explicações”, a antiga Ministra vai mais longe e pede mesmo que sejam retiradas “responsabilidades” dos autores do parágrafo que causou a queda da maioria absoluta socialista.

Mariana Vieira da Silva defende que “não há nada que justifique” que António Costa ainda não tenha sido ouvido

Outra das figuras do anterior executivo de António Costa a sair em defesa do ex-primeiro-ministro foi Mariana Vieira da Silva. A antiga Ministra da Presidência criticou o MP por, desde outubro do ano passado, não explicar aos portugueses “o que é que justificou aquele parágrafo” que levou à demissão do ex-primeiro-ministro e “quais são as acusações” contra o ex-Chefe de Estado para que este se possa defender.

A maior crítica prende-se com o facto de António Costa ainda não ter sido ouvido sobre o caso. “António Costa pediu para ser ouvido e não há nada que justifique que meses depois disto acontecer, meses depois de haver buscas, meses já depois de umas eleições, continue a não poder ser ouvido e não saber o que é que existe contra ele no processo para se poder defender”, defendeu Mariana Vieira da Silva em entrevista à Antena 1.

Contudo, a anterior Ministra recusou que se trate de um ataque à independência do MP. “Quando falamos na separação de poderes é preciso compreender que tem sempre dois sentidos. Tem o sentido de não haver nenhuma intermissão nas investigações, que respeitamos e sempre reafirmámos, mas também do poder político poder conhecer e não estar durante anos sem saber exatamente o que é que existe contra um cidadão que tem o direito de se defender”, disse.

Por fim, Mariana Vieira da Silva pediu “celeridade” à justiça para que não se fiquem “meses ou anos” à espera de uma decisão.

Mariana Mortágua considera explicações da PGR “insuficientes” e quer “estado do MP" debatido antes da sucessão de Lucília Gago

A líder bloquista foi uma das figuras fora do universo socialista a também vir pedir esclarecimentos ao MP. Na altura da demissão do ex-primeiro-ministro, Mariana Mortágua já tinha considerado ser relevante conhecer mais informações sobre a Operação Influencer. Agora, perante os novos desenvolvimentos, volta a considerar as explicações da Procuradora-Geral da República (PGR) “insuficientes”. “É agora ainda mais necessário que esclareça o quadro da investigação, o seu âmbito e duração”, escreveu esta quinta-feira na rede social X.

Com uma lente mais ampla, a coordenadora do Bloco de Esquerda considerou ser necessário debater o “estado do MP”, assim como o “perfil” do nome que irá suceder a Lucília Gago antes da nomeação do mesmo. A PGR termina o seu mandato em outubro e já disse estar “fora de questão” voltar a recandidatar-se.

André Ventura vê "espada sobre o tribunal" para deliberar a favor de Costa

Colocando-se na ponta contrária das declarações das figuras à esquerda, André Ventura veio considerar ser "preocupante" a "pressão enorme da sociedade civil" e de "setores ligados ao PS" para haver uma conclusão da Operação Influencer que beneficie António Costa. “Parece que há uma espada sobre o tribunal a dizer ‘absolvam-no’ porque ele tem de ir ao Conselho Europeu. Ou temos uma justiça igual para todos ou não temos”, disse aos jornalistas esta quinta-feira.

“António Costa não se demite só pelo processo em si, foi encontrado dinheiro no gabinete ao seu lado, torna-se público que um dos advogados que fez o projeto de lei sobre Sines era ligado aos interesses de Sines, a empresa do lítio e hidrogénio contratou o melhor amigo de António Costa para os assessorar. Isto não desapareceu”, defendeu o líder do Chega desvalorizando os novos desenvolvimentos trazidos pelo acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa. Ainda assim, André Ventura não acredita que tenha existido alguma “tentativa de branqueamento” por parte da Presidência ou do Tribunal.

Independentemente das questões judiciais, André Ventura quer levar ao Parlamento uma “investigação profunda sobre os negócios do lítio e do hidrogénio”. Contudo, não pormenorizou em que formato.

Rui Rocha pede "muito cuidado” com “conclusões precipitadas”

O líder da Iniciativa Liberal, em reação ao acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa conhecido na passada quarta-feira, veio pedir ‘gelo nos pulsos’ já que não se trata de nenhuma "decisão final". “Muito cuidado com conclusões precipitadas sobre a viabilidade ou não do processo com base em decisões sobre decisões instrutórias”, disse esta quinta-feira, em declarações na Assembleia da República.

O líder liberal defendeu que é necessário haver “cautela” antes de serem tomadas “decisões ou posições definitivas” baseadas em informações “provisórias”. “O momento em que estamos é que houve decisões instrutórias e essas decisões foram agora questionadas pelo Tribunal da Relação. Essas decisões não têm a natureza de decisão final”, alertou.

Sobre o facto de António Costa ainda não ter sido ouvido sobre o caso, Rui Rocha defendeu que a prioridade deve ser uma “justiça célere e justa para todos”. “Aquilo que estranharia é num país em que a justiça é lenta para todos, em muitas vezes tarda demais, houvesse um regime de exceção para titulares de cargos políticos”, atirou.