Sem querer comentar diretamente a decisão do Tribunal da Relação sobre a Operação Influencer - que desmonta, quase por completo, os argumentos do Ministério Público no que diz respeito à atuação do ex-primeiro-ministro - o Presidente da República puxou de outro cenário, que já tinha lançado no passado.
“Não vou comentar as decisões da Justiça, mas repito de uma outra forma um comentário que já fiz, mais político. Tenho a sensação de que começa a ser mais provável haver um português no Conselho Europeu, no próximo outono, em Bruxelas”, disse Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, à margem de uma cerimónia de homenagem a Alberto Martins e à crise académica de 1969, em Coimbra.
Os rumores são antigos. O nome de António Costa é há muito tempo apontado para o Conselho Europeu, mas a queda do Governo e as suspeitas do Ministério Público em torno do primeiro-ministro transformaram-se num obstáculo.
O acórdão do Tribunal da Relação, anunciado esta quarta-feira, não só anulou as medidas de coação aplicadas aos amigos de Antonio Costa, Diogo Lacerda Machado e Vítor Escária, como também praticamente anulou as suspeitas que recaiam sobre o ex-chefe de Governo.
Apesar da investigação na justiça, Costa continua a ser um dos favoritos ao cargo europeu, tendo sido frequentemente elogiado por Marcelo Rebelo de Sousa e, mais recentemente, pelo chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez. Se o Presidente português falou em “excecional prestígio” do ex-líder socialista, o colega espanhol foi ainda mais longe.
“Sou um fã declarado da política de António Costa e da liderança que ele tem exercido, não só em Portugal, mas também na Europa. É um grande político e um grande amigo”, disse Sánchez na segunda-feira, em Madrid, com o atual primeiro-ministro ao lado.
Luís Montenegro, que confessou não ser “tão aficionado das políticas do seu antecessor”, manteve no ar a hipótese de Portugal apoiar a candidatura de António Costa, mas ainda não confirmou esse apoio.
Mas claro foi Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiros que passou uma boa parte do seu percurso político mais recente em Bruxelas. No passado dia 6 de abril, em entrevista à CNN, Rangel afirmou que, caso Costa se candidate a um cargo europeu, o Governo da Aliança Democrática não se vai opor.
“Se a questão se puser e quando se puser - essa questão só se vai pôr a seguir às eleições europeias -, eu não tenho dúvidas que o Governo português tomará uma posição sobre isso, e com certeza que não será uma posição negativa”, disse o ministro.
O antigo primeiro-ministro, que terminou recentemente as suas funções em Belém, é apontado pelos socialistas europeus como um possível candidato e foi considerado pelo site Politico como o “cabeça-de-lista”, mas a concorrência é de peso. Além de Costa, Mario Draghi, o antigo primeiro-ministro italiano e presidente do Banco Central Europeu, é também um nome forte apontado para substituir Charles Michel.
Notícia atualizada às 17h36