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Costa defende que resultado do Chega não deve ser “sobrevalorizado” e alerta para ideia “tentadora” de Europa federal

Ao lado de Felipe González, Mariano Rajoy e Francisco Pinto Balsemão – todos antigos chefes de governo –, o agora ex-primeiro-ministro justificou “o maior crescimento do partido populista de direita” com a falta de “tração” de PS e PSD. Mas disse que “não vale a pena exagerar na interpretação dos resultados” das eleições e que “é preciso dar tempo para que as coisas retomem a normalidade”

Felipe González, Francisco Pinto Balsemão, Mariano Rajoy e António Costa
JOÃO RELVAS/LUSA

António Costa começou a sua intervenção na segunda edição do ‘Foro La Toja – Vínculo Atlântico’, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, por agradecer “a aula prática de aprender a ser ex-primeiro-ministro”. Ao lado de outros três antigos chefes de governo – dois espanhóis (o socialista Felipe González e o popular Mariano Rajoy) e outro português (Francisco Pinto Balsemão) –, Costa defendeu esta terça-feira que não se deve “sobrevalorizar a interpretação das últimas eleições” legislativas, que, disse, decorreram em “circunstâncias particularmente estranhas”.

Em linha com outros países europeus, a “maior fragmentação” política em Portugal aconteceu “nos últimos anos”. Primeiro à esquerda, com o aparecimento do Bloco de Esquerda, e só mais recentemente à direita, após anos de um PSD “hegemónico”, com uma relação “convivial” com o CDS e uma “longa tradição de coligação desde 1979”. Apenas com o surgimento da Iniciativa Liberal e do Chega é que “a direita se fragmentou”, referiu.

No breve diagnóstico que fez, Costa adiantou que “aquilo que permitiu o maior crescimento do partido populista de direita [o Chega] foi sobretudo o facto de os cidadãos não terem sentido nem no PS, nem no PSD tração suficiente para a concentração necessária do voto”. “Uma concentração para que pudessem ter votações acima dos 30%, como sempre tiveram quando ganharam”, desenvolveu. Mas, insistiu, “não vale a pena exagerar na interpretação dos resultados” e “é preciso dar tempo para que as coisas retomem a normalidade”.

Voltando-se para o resto da Europa, o antigo primeiro-ministro falou num “quadro particularmente desafiante”. “A União Europeia é um exercício muito imaginativo. É algo muito atípico no âmbito das organizações internacionais e requer ainda mais imaginação para o futuro”, sentenciou.

Minutos antes, Francisco Pinto Balsemão – fundador do Expresso e presidente do Conselho de Administração do grupo Impresa – defendera que “a Europa deve caminhar para ser uma federação de Estados”, que tem de se perder o “medo” destas palavras e que estaria “disposto a abdicar de uma parte da soberania”. Ora, sendo “tentadora” esta ideia, Costa sublinhou não conhecer “nenhum país” com “uma natureza federativa a partir de nações pré-existentes e muito mais de Estados-nações pré-existentes”. E lembrou: os Estados Unidos construíram uma federação, matando a população indígena que existia previamente, “como todos vimos nos westerns da nossa juventude”, e o mesmo aconteceu no Brasil, apesar de não o termos visto em westerns.