Política

Augusto Santos Silva defende entendimentos orçamentais entre Governo e PS

Ex-presidente da Assembleia da República vê com bons olhos a troca de correspondência entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro. Foi uma “iniciativa muito boa” do PS que teve uma resposta “à altura” por parte do primeiro-ministro

Ana Baião

Augusto Santos Silva defendeu esta terça-feira um entendimento entre o Governo e o PS para várias matérias, entre as quais incluiu o Orçamento do Estado para 2005. O ex-presidente do Parlamento, disse que acompanhou a troca de correspondência entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, que considera uma “iniciativa muito boa” do PS que teve uma resposta “à altura” por parte do primeiro-ministro.

“Só faço votos para que nas questões que exigem entendimento até porque exigem maioria no Parlamento, os dois maiores partidos possam negociar, conversar e chegar a entendimentos”, acrescentou Santos Silva, em declarações aos jornalistas à margem do Forum La Toja, que está a decorrer esta terça-feira, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa. E deu como exemplos um “eventual orçamento retificativo ou o Orçamento do Estado de 2025”, embora defenda que se deve “ir a cada coisa de sua vez”: “Agora está em questão esta iniciativa, depois a 10 de outubro há de conhecer-se qual é a proposta de lei para o Orçamento do Estado que o Governo há de apresentar.”

Remetendo-se agora para o estatuto de um “mero civil”, Augusto Santos Silva sublinhou que foi a “vontade soberana do povo português" que ditou a constituição do atual parlamento, em que não há maioria absoluta e os dois maiores grupos parlamentares têm o mesmo número de deputados. “Portanto, para aprovar leis que passam pelo Parlamento é necessário que haja maiorias que se vão construindo caso a caso.”

E acrescentou que “é perfeitamente possível” haver um partido do Governo e um “partido democrático, moderado e europeísta como o PS" que lidera a oposição, mas que “ao mesmo tempo, quando necessário, haja conversas entre o governo e oposição, designadamente quando o governo não tem o número de votos necessário para fazer valer as suas decisões”.

Sobre as intenções de Pedro Nuno Santos, disse ter interpretado a carta do líder do PS como "uma iniciativa para propor conversações com o Governo para ir resolvendo questões concretas, nas quais há convergência programática.” Sendo que, acrescenta, esses pontos de contacto foram sendo visíveis na campanha, nomeadamente na questão da valorização das carreiras de várias categorias profissionais.

O socialista falava a partir da Gulbenkian, onde decorre esta terça-feira a segunda edição do Foro La Toja – Vínculo Atlântico. A iniciativa contou durante toda a manhã com a presença de várias figuras da política nacional, inclusivamente o recém empossado ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, que também declarou ver com bons olhos o diálogo entre o PS e PSD.

À saída do evento, Augustos Santos Silva foi ainda questionado sobre as declarações do ex-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, que defendeu esta segunda-feira uma aproximação ao Chega. “Essas palavras não me surpreendem. Como compreendem, eu penso exatamente o contrário”.

O anterior número dois do Estado Português foi também questionado sobre a Operação Influencer, quando passam cinco meses desde que foi tornada pública a investigação que ditou a queda do Governo. Mais moderado a falar aos jornalistas do que tem sido nas redes sociais, Augusto Santos Silva recusou estar a condicionar processo, voltando a sublinhar que atualmente é apenas um cidadão e professor da faculdade de Economia da Universidade do Porto. Mas rematou: “Sou dos que defende à justiça o que é da justiça e à política do que é da política.”