Política

Marques Mendes: “Não vai ser possível satisfazer a 100% reivindicações de professores, médicos, polícias e militares”

No habitual espaço de comentário semanal, falou da derrota política de Santos Silva, comentou a “dinâmica de vitória” do Chega e antecipou os desafios (e sinais de esperança) para o novo Governo

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O Orçamento Retificativo ainda não tem texto, mas terá já aprovação assegurada. E para Luís Marques Mendes, se “faz confusão” a “ligeireza” com que os partidos admitem votar contra ou a favor, este posicionamento é também uma “vantagem” para o Governo. “Não vai ser possível satisfazer a 100% reivindicações de professores, médicos, polícias e militares. Não há dinheiro para tudo.” Como resultado, antecipa “alguma contestação” e nesse cenário “sempre é melhor ter o ‘aval’ do PS e do Chega do que não ter”.

No habitual espaço de opinião no Jornal da Noite da SIC, o comentador antecipou os desafios que o novo Governo tem pela frente. Entre eles a instabilidade internacional, nomeadamente com as guerras na Ucrânia e Médio Oriente, assim como a possível reeleição de Trump nos EUA. Terá também de lidar com o arrefecimento da economia europeia, o “surto de greves em Portugal” promovida por CGTP e as novas regras europeias de gestão da dívida.

Mas há também sinais de esperança, como o recuo da inflação, a redução gradual das taxas de juro (esperada a partir de junho), a melhoria do PIB e desemprego baixo. Há igualmente “alguma folga orçamental”, que Marques Mendes acredita “não ser tão grande como se imagina” e o PRR, que tenderá a “entrar em velocidade cruzeiro” nos próximos meses.

Acima de tudo, o Governo terá de “pôr economia a crescer” da forma sustentada que AD prometeu na campanha, promover o desagravamento fiscal e fortalecer o estado social (SNS e habitação). O comentador defende ainda a necessidade de um novo Acordo Social (para a produtividade e salários) e um reforço do combate à corrupção, sendo urgente restabelecer a confiança nas instituições. “O próximo Governo não poderá fugir” a este tema.

Resultados eleitorais da emigração

Marques Mendes teceu ainda comentários ao “facto político mais relevante” dos resultados eleitorais da emigração. Ao não ser eleito, Augusto Santos Silva sai “pela porta pequena” e “por culpa própria”, afirma o comentador da SIC. “É uma pessoa muito inteligente, mas cometeu três erros nos últimos anos”, acrescenta.

O primeiro foi deixar de ser Ministro dos Negócios Estrangeiros, cargo “onde estava a ‘limpar’ a má imagem que tinha trazido da era Sócrates”. O segundo foi tornar-se presidente da Assembleia da República e o terceiro foi a forma como o fez. “Não tinha perfil para o lugar e exerceu cargo com arrogância e crispação. Tudo isso se paga em política”, embora, sublinhe Marques Mendes, nada disto signifique que não possa regressar à vida política.

Falando sobre o voto da emigração, Luís Marques Mendes criticou que 334 mil votantes elejam apenas quatro deputados quando em Portugal continental existem distritos com menos pessoas que elegem muito mais. Por isso defende um aumento do número de deputados eleitos no estrangeiro quando houver uma “certa normalização” na vida política nacional. “Era mais justo e uma forma de valorizar a diáspora.”

Por fim, Marques Mendes comentou também a “evidente” grande vitória do Chega neste círculo eleitoral e projeta as implicações do resultado destas legislativas. “Evidentemente, o Chega vai ser um caso nas europeias e nas autárquicas”, diz.

Em particular nas europeias, o comentador admite uma vitória. O Chega está “muito mobilizado” e tem “dinâmica de vitória” que está “mais a seu favor do que da AD ou PS” numa eleição que terão uma abstenção elevada (dado ser fim de semana prolongado).

Se a AD, que venceu agora “à tangente”, não vencer europeias fica fragilizada em vésperas de negociação do Orçamento do Estado, acrescenta.