Política

O "aventureiro" contra o "incompetente": Pedro Nuno acenou com fantasma da "austeridade", Rui Rocha com problemas no país

No primeiro debate das legislativas, líder da Iniciativa Liberal tentou encostar Pedro Nuno Santos aos problemas na saúde, habitação, ferrovia - foi “incompetente e falhou” -, enquanto líder do PS procurou desmontar “rombo” do choque fiscal e da “magia” prometida pelos liberais. E rejeitou “dogmas” no envolvimento de privados na saúde

José Fernandes

Foi o primeiro de 30 debates, e começou morno. Apostado em desconstruir a tese do “choque fiscal” prometido pela IL, Pedro Nuno Santos apareceu como o defensor das contas certas e de uma governação enquadrada na “realidade” do país (e não na “magia” e no “aventureirismo” dos liberais), e acabou a ser apelidado de “incompetente”, com Rui Rocha a acusá-lo de não ter soluções novas para os problemas dos serviços públicos em que o Governo socialista deixou o país.

“Pedro Nuno Santos foi incompetente e falhou”, terminaria Rui Rocha nos minutos finais do debate em que tentou colar Pedro Nuno Santos aos “erros e cicatrizes” que o próprio chegou a admitir ter, lembrando as falhas que persistem na habitação - pasta que Pedro Nuno tutelou -, bem como as falhas no SNS, com listas de espera para consultas e cirurgias, e até os 3,2 mil milhões de euros injetados na TAP, dos quais “não foi devolvido um cêntimo”.

O objetivo era um: dizer que o PS está “esgotado”, “não tem soluções para o país”, e propõe “mais do mesmo”, apesar de ter mudado a liderança. ”É por isso que está a descer nas sondagens", diria ainda Rui Rocha já sem Pedro Nuno com tempo para responder.

Choque fiscal dos liberais “custaria 9 mil milhões por ano”

A estratégia de Pedro Nuno Santos, porém, era outra. Admitindo que “não está tudo bem” nos serviços públicos, nomeadamente no gigante problema da habitação ("temos respostas, mas elas não estão ainda na sua plenitude"), o ex-ministro quis vincar a lógica de continuidade face ao governo em funções e apareceu apostado em desmontar o “rombo” e o “aventureirismo” das propostas dos liberais, chegando mesmo a alertar para o regresso da “austeridade” caso as medidas da IL fossem incorporadas num governo de direita.

“A diferença entre mim e Rui Rocha é que Rui Rocha sabe que não vai governar, eu estou preocupado com as contas públicas” e como “vou governar no dia 11 de março”, chegou a dizer Pedro Nuno Santos, atirando à “magia” fiscal da IL e afirmando que fez as contas ao “choque fiscal” dos liberais, e custaria nada menos do que 9 mil milhões de euros por ano. Seria um “rombo”, disse, com Rui Rocha a negar os números, mas a deixar-se enveredar pela discussão dos milhões: custaria “4 ou 5 mil milhões”, diria o líder dos liberais.

De uma forma ou de outra, Pedro Nuno Santos diria que o resultado de uma governação com o programa da IL era o “regresso da austeridade” e o fim do estado social. E insistiria que a chave não está no choque fiscal, até porque os jovens que emigram, emigram para países com impostos mais altos - mas também salários mais altos. O foco, disse, tem de estar nos salários e numa visão “transformadora" da economia.

A argumentação sobre o “radicalismo” das propostas da Iniciativa Liberal tinha como objetivo atingir outro alvo, o PSD. Mesmo que de passagem, acabou por dizer que não tem “receio das ideias da Iniciativa Liberal”, mas que “infelizmente a AD possa aceitar algumas”, acenando com a possibilidade de diabolização de uma aliança que junte a AD e liberais.

SNS e PPP: “PS insiste num modelo que não funciona”

Na saúde, e nos serviços públicos no geral, socialistas e liberais têm visões muito diferentes e isso também ficou visível no debate desta noite, com Pedro Nuno Santos a tentar piscar o olho aos moderados rejeitando “dogmas” nas Parcerias Público Privadas e defendendo a complementaridade na saúde, e com Rui Rocha a dizer que quer soluções novas para problemas velhos: “Não perguntem à IL como quer mudar um sistema que não funciona, perguntem ao PS porque insiste num modelo que não funciona”, disse, defendendo como solução prioritária a atribuição imediata de médico de famílias aos idosos, grávidas e crianças até 9 anos.

Pedro Nuno Santos, por sua vez, procurou vincar que não tem complexos ideológicos com o privado, mas o que não quer é “desistir do SNS”. “A solução não pode ser desistirmos do Estado social”, disse, acusando Rui Rocha de não fazer contas aos gastos e propor “cheques” para cima dos problemas. A resposta surgiria no mesmo tom: “O PS pôs 6 mil milhões na saúde para nada”.

O debate passaria ainda pelos Açores, onde os dois foram perdedores. Também os dois passaram a bola do day after para a autonomia do PS Açores e da Iniciativa Liberal na região autónoma. O contágio com a campanha nacional é inevitável.