Para o líder da Iniciativa Liberal (IL) só há uma saída possível para resolver a crise política na Madeira – a convocação de eleições antecipadas. Rui Rocha afasta, contudo, a necessidade de se aprovar antes o orçamento regional, que está previsto ser discutido e votado entre 6 e 9 de fevereiro. “Custa-me que quem vier a assumir responsabilidade de governar na Madeira fique vinculado a um Orçamento que não é o seu”, defendeu o presidente dos liberais este sábado à margem de um almoço de campanha em Angra do Heroísmo, na Terceira (Açores).
Admitindo que há mecanismos que permitem que a Região Autónoma não fique sem gestão orçamental, Rocha apontou, por exemplo, para o prolongamento do orçamento atual."A nível nacional, defendo que se faça um [orçamento] retificativo. De que vale estarmos a aprovar à pressa um orçamento para a Madeira, com um governo descredibilizado, um orçamento, para que os que vierem a seguir depois ainda tenham de estar a justificar porque é que fazem diferente?", questionou.
A bola ainda não está do lado de Marcelo. Há um tempo de dissolução, dois meses antes de o Presidente da República poder convocar eleições antecipadas na Madeira, uma vez que o último sufrágio aconteceu há menos de seis meses, sublinhou o líder liberal, colocando mais pressão sobre Marcelo: nada impede que se dê um “sinal claro” de que no momento certo, com o “prazo cumprido”, os madeirenses vão poder voltar a decidir sobre o seu futuro.
O presidente dos liberais justifica a necessidade de eleições antecipadas na Região Autónoma, em primeiro lugar, face às dúvidas quanto ao tamanho da teia social-democrata, após Miguel Albuquerque e Pedro Calado terem sido constituídos arguidos, por suspeitas de corrupção. E, em segundo lugar, pela “coerência” após a demissão de António Costa na sequência da Operação Influencer.
"Não sabemos a extensão desta investigação, e que dimensão abrange dentro do próprio PSD. Como ficaria a questão da confiança dos eleitores e dos madeirenses e portosantenses se agora fosse designada uma figura do PSD e daqui a uns dias se viesse a constatar que essa pessoa também estava a ser investigada no âmbito dessa investigação ou de outra?", atira. Seria uma situação de “absoluta falência da credibilidade” das instituições, “absolutamente intolerável”, vincou.
Por outro lado, Rocha considera que as razões que levaram o PR a decidir, em novembro, convocar eleições antecipadas também se cumprem de “forma quase perfeita” no caso da Madeira: “É uma questão de confiança, credibilidade e critério de exigência que devemos ter com as instituições. É melhor para todos que se vá a eleições, se clarique e traga de novo a possibilidade de decidir aos madeirenses”, insistiu.
Apelo a clareza do PSD
Afirmando esperar que essa seja a solução escolhida pelo PR, Rocha criticou ainda o silêncio do líder social-democrata sobre o caso, pedindo “responsabilidade” a todos os agentes políticos: “Infelizmente outros não têm a mesma rapidez e não aplicam o mesmo critério. Nós somos sempre claros nestas questões, não precisamos de 48 horas para ver se as coisas amenizam", carregou, numa referência indireta ao presidente dos sociais-democratas.
O caso envolve o PSD de uma “forma que não é pontual”, observou, acrescentando que os portugueses querem saber o que está em causa, mas agora é o tempo da Justiça. “Há, contudo, uma avaliação política a fazer. O que se passa na Madeira é muito grave”, reforçou, pressionando também Montenegro.
À boleia do caso, os liberais alegam ainda que tinham razão quando decidiram concorrer sozinhos às eleições de 10 de março, rejeitando uma coligação pré-eleitoral com o PSD. Quem não tinha percebido por que é que a IL teve necessidade se apresentar com as suas listas e as suas propostas às legislativas, “penso que os últimos dias esclarecem bem esse ponto”, ironizou o líder, pedindo “exigência” e “ética” ao partido.
O sucessor de Miguel Albuquerque para liderar o Governo Regional será indicado na próxima segunda-feira, numa decisão para a qual o presidente demissionário não está excluído. À esquerda e direita multiplicam-se porém os apelos para a convocação de eleições antecipadas.