Política

Marques Mendes: ataques a Marcelo no congresso do PS “são ajuste de contas sem utilidade”

No seu espaço de comentário habitual na SIC, Luís Marques Mendes falou das “anormalidades” na saúde, da falta de transparência nos casos dos CTT e TGV e do congresso do PS, defendendo que Pedro Nuno Santos “fez um bom discurso ao fim desta manhã com as linhas orientadoras da ação governativa”. Mas também lembrou que a nova AD tem dois problemas a resolver.

Doentes urgentes que esperam 12, 15 ou 18 horas para serem atendidos num hospital; o atual pico de mortalidade “só comparável” com os tempos da pandemia; e o aumento do número de utentes sem médico de família (mais 9,8%) são questões que Luís Marques Mendes sublinha como “não normais”.

No seu habitual espaço de comentário televisivo no Jornal da Noite na SIC, o antigo líder do PSD, sublinhou que “a primeira anormalidade é a falta de planeamento na saúde”. A esta acrescenta “as desculpas esfarrapadas do Governo”, quando "se fez o maior investimento de sempre no setor, mas a situação vai de mal a pior”.

Perante o pico de infeções e o caos nas urgências, o comentador apelou à vacinação dos portugueses e disse esperar que “as oposições tenham alternativas para tentar melhorar a situação”.

Um ano difícil

O aumento de preços no ano que agora começou e o fim do IVA Zero foram outros dos temas destacados por Marques Mendes, que lembrou que Espanha prolongou por seis meses a medida, mas Portugal não.

Apesar de dar nota positiva ao aumento de 6% das pensões mais baixas (até €1082); de 7,9% no salário mínimo nacional (passa para €820); ou de 3 a 6,8% na função pública e variáveis no privado, que “aumentam o poder de compra”, Marques Mendes admitiu que estes “aumentos dos rendimentos vão ser literalmente engolidos” pelo aumento do preços do cabaz alimentar, que “anda na ordem dos 10%”.

Perante esta realidade e um excedente orçamental, deixou o recado: “Não seria de reforçar o apoio financeiro às famílias mais carenciadas, já que, como se vê, os aumentos salariais e das pensões são comidos entre aspas”.

Falta de transparência nos casos CTT e TGV

A polémica da compra das ações dos CTT pelo Governo e do financiamento dos TGV foram outros dos temas em análise. Marques Mendes criticou “a falta de transparência” do Governo nos dois casos. Reconheceu que “o governo tem o direito de dar ordem para se comprar ações, mas tem o dever de dar informação pública”. E criticou o que chamou de “padrão de atuação” de “esconder a verdade”, relembrando o caso de Alexandra Reis e da “indemnização choruda” da TAP.

No caso do TGV, lembrou tratar-se de “um investimento gigantesco” (mais de 700 milhões de euros) e que é preciso clarificar se se trata de uma parceria público-privada, já que até agora “nada foi dito” e “ninguém esclarece” esta e outras questões. Entre estas, se essa parceria é para uma nova linha ou para explorar essa linha e qual o investimento público e o privado neste projeto. Isto quando há decisões a tomar “até ao final do mês”. E relembrou que “as PPP rodoviárias foram um desastre”.

“Um congresso curioso” e uma AD com dois problema

Classificando o Congresso do PS, que encerrou este domingo, como um “congresso curioso”, Marques Mendes destacou “a unanimidade em torno de reafirmar e homenagear o legado de António Costa”, que lhe pareceu “normal e natural”, “concorde-se ou não com o que ele fez ou não fez”.

Já o facto de uma parte dos apoiantes de António Costa terem feito ataques ao Presidente da República e ao Ministério Público é classificado é mais uma das “anormalidades” para Marques Mendes. Segundo o comentador, os ataques a Marcelo “são um ajuste de contas sem qualquer utilidade” já que “não vai mais a votos”, mas “continua cá, e António Costa sai”.

Marques Mendes reforça a crítica à inclusão do parágrafo da PGR referente a António Costa no caso da Operação Influencer: “Aquele parágrafo nunca devia ter existido”. E considera que a sua inclusão tem mais a ver com “argumentos políticos” do que com transparência".

O comentador criticou ainda o Partido Socialista por se queixar da justiça, “mas durante oito anos não ter feito nenhuma reforma na justiça”. E voltou a usar o substantivo “anormalidade” para se referir ao PS que critica a PGR que nomeou.

Quanto à prestação de Pedro Nuno Santos no congresso do PS, Marques Mendes considerou que “a ele correu-lhe bem, porque conseguiu fazer a unidade do partido, não se envolveu nas tontarias de ataques ao Presidente da República e ao Ministério Público, e porque ele fez dois bons discursos”. Sobretudo o deste domingo que disse ter sido “bem pensado e define as linhas orientadoras de uma agenda governativa”. Porém, lembrou “a imagem de impreparação, ou até de alguma imaturidade que ele deixou nalguns dossiers” quando esteve no Governo.

Já quanto à assinatura do acordo formal da nova AD este domingo, Marques Mendes aplaudiu a coligação PSD/ CDS/PPM e defendeu quatro vantagens para a sua existência: “Traz um novo élan político; permite ter mais deputados do que se os partidos concorressem separadamente; tem abertura para integrar membros da sociedade (como o ex-bastonário da Ordem dos Médicos Miguel Guimarães); e é um projeto transformador”.

Contudo, o comentador também admitiu que esse projeto transformador ainda não existe e esse é um dos problemas nas mãos de Luís Montenegro e de Nuno Melo. O outro, acrescentou, é que “a AD só ganha as eleições se o Chega não tiver um resultado muito alto”, ou seja mais de 10%, o que obriga a que “a Aliança Democrática tenha a mensagem certa e adequada”.