Política

IL. Ex-candidato a líder e critico da direção deixa também partido e invoca "fraude" para travar alterações estatutárias

Numa carta enviada esta manhã aos membros, o antigo conselheiro nacional justifica a sua desfiliação face ao novo regimento da Convenção Estatutária, adiada de dezembro para julho de 2024."Está montada uma fraude para impedir alterações aos estatutos", acusa José Cardoso

José Cardoso, candidato à presidência da Iniciativa Liberal
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O ex-candidato à liderança da Iniciativa Liberal (IL) José Cardoso, um dos maiores críticos da atual direção, abandonou o partido, alegando que está montada uma “fraude” para travar alterações estatutárias. Numa carta enviada esta manhã aos membros, o antigo conselheiro nacional justifica a sua desfiliação face ao novo regimento da Convenção Estatutária, adiada de dezembro para julho de 2024.

“Os últimos desenvolvimentos confirmam o que temia. Patrocinado pelo presidente do Conselho Nacional e pela Comissão Executiva foi feito o adiamento a Convenção e está montada uma fraude para impedir alterações na Convenção Estatutária de julho”, afirma José Cardoso na missiva a que o Expresso teve acesso.

Em causa está a introdução da palavra “apenas” do artigo 14.º do regimento da reunião magna sobre propostas de Emenda, Eliminação ou Aditamento aos Projetos de Alteração aos Estatutos: “as Propostas de Emenda, Eliminação ou Aditamento incidem apenas sobre artigos, números ou alíneas dos Projetos Globais de Alteração aos Estatutos da IL”, pode ler-se no regimento.

Para o ex-adversário de Rui Rocha na corrida interna, o objetivo é claro: impedir alterações aos estatutos atuais, apostando que as propostas globais votadas no início da Convenção não têm ⅔ dos apoios necessários. “Assim sendo ficará tudo na mesma. Esta golpada é contrária aos estatutos atuais da IL ao impedir propostas de alteração de membros, como ali previstas, em que nada obriga a estar dependente de propostas globais, podendo fazer uma proposta específica”, acrescenta.

Ao Expresso, José Cardoso admite que a discordância com a comissão executiva do partido é “antiga”, mas a gota de água foi a alteração ao regimento da Convenção: “O golpe final foi a IL impedir aos membros apresentarem as suas ideias para os estatutos. Isso significa que estamos numa ditadura, o que é inacreditável”, atira.

Apelo a recurso ao TC

Em julho, o ex-candidato a líder da IL apresentou a proposta Estatutos + Liberais, juntamente com Miguel Ferreira da Silva, primeiro presidente da IL e deputado municipal em Lisboa; Tiago Mayan, presidente da junta de freguesia de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde e ex-candidato a Belém e Hugo Condesa, ex-candidato a coordenador do Núcleo Territorial do Porto. Uma das duas propostas que estará em discussão na Convenção agendada para os dias 5, 6 e 7 de julho no Europarque, em Santa Maria da Feira. Nos últimos dias, admite que comunicou a sua decisão aos três liberais por uma questão de respeito e cortesia: “Informei-os, mas não pedi opinião, pois a minha convicção para sair era total”, vinca.

Agora, espera que um desses liberais ou outro membro do partido avance para o Tribunal Constitucional (TC) porque acredita que o regimento da Convenção é “irregular” à luz dos estatutos do partido.

Durante três anos no CN lutei por uma IL descentralizada, transparente, coerente com o seu discurso. Criei o Grupo Informal, o único espaço nacional de encontro dos membros. Por fim, trabalhei centenas de horas em propostas estatutárias que agora tentam impedir que vão a votos. Espero que alguém avance para o TC”, nota.

Sobre o futuro, José Cardoso admite que quer continuar na política e diz estar atento aos movimentos liberais que poderão vir a nascer em Portugal: “Serei canalizado para qualquer projeto liberal desde que tenha estatutos realmente liberais e não desperdiçe capital humano como a IL”. Para já, diz só ter uma certeza: não seguir o rumo de outros liberais e aderir ao Chega: “Isso nunca. Nem em coma”.