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Bloco e PCP colam PS à direita e tentam isolar-se como "alternativa"

Com os votos contra o Orçamento do Estado já anunciados, tanto o Bloco como o PCP carregaram nas críticas ao PS no encerramento do debate na especialidade. Mariana Mortágua falou numa “política arrogante” que “calou a direita”, Paula Santos colou “instabilidade” à maioria absoluta e pediu uma “mudança de políticas”. O Livre foi à exceção à esquerda com a abstenção no OE

ANTOBIO PEDRO SANTOS

No último debate do Orçamento do Estado (OE) com António Costa no lugar de primeiro-ministro, a esquerda empenhou-se em afastar-se o mais possível das políticas da maioria absoluta e colá-las às bancadas da direita. Com um voto contra o documento de Fernando Medina pré-anunciado e com quase todas as propostas de alteração chumbadas – em cerca de 200 propostas, o Bloco de Esquerda viu serem aprovadas quatro, das 450 do PCP só 10 tiveram luz verde – não houve qualquer surpresa na manutenção do sentido de voto final dos dois partidos.

“O OE é fraco porque escolhe remendos, quando o país exige soluções”, disse Mariana Mortágua. Também a líder parlamentar comunista acusou o Governo de não alterar “um milímetro” do documento após a discussão na especialidade. Com os partidos a entrarem em campanha pré-eleitoral, os dois ex-parceiros de gerigonça cavaram diferenças para o PS e colocaram cada um dos seus partidos como a “alternativa” que apresenta “soluções” para o país.

Em sentido contrário esteve o Livre que, juntamente com o PAN, absteve-se na votação final do OE. Sendo o partido com mais propostas de alteração viabilizadas pelo PS (26 no total, face às 25 do PAN), Rui Tavares reconheceu as “vitórias” apesar do partido não se rever na “estratégia” que está na base do documento. “Se há coisa que importa é reconhecer são as vitorias quando as conquistamos”, disse na curta intervenção que abriu o debate de encerramento.

Já a coordenadora do Bloco criticou a “má política” da maioria absoluta socialista nas negociações com os professores, na crise da habitação, na melhoria dos salários e até no acordo com os médicos celebrado na passada terça-feira, dia 28. “As negociações com os médicos foram a brincar porque nos números do OE não cabem negociações a sério, não cabe a reposição do poder de compra perdido pelos trabalhadores do Estado, nem as expectativas de quem espera por uma creche ou a quem o primeiro-ministro garantiu travar o aumento das rendas para depois permitir o maior aumento em 30 anos”, enumerou Mariana Mortágua. Assim, à maioria absoluta concedida pelos portugueses em 2022, o PS respondeu com uma “política arrogante, de remendos mal-amanhados que deixaram Portugal e a vida dos portugueses presa por arames”.

As críticas às políticas socialistas foram partilhadas pelo PCP depois dos comunistas verem ficar de fora do OE a maioria das suas medidas-bandeira. “Não houve qualquer disponibilidade da maioria absoluta para valorizar o poder de compra dos trabalhadores e dos reformados, para fixar profissionais de saúde no SNS, para contabilizar o tempo de serviço dos professores, para assegurar que ninguém fica sem a sua casa, para reduzir preços de bens essenciais. As propostas que o PS aprovou não alteram um milímetro o orçamento que deu entrada na Assembleia da República”, atirou Paula Santos.