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Marcelo & Moedas: ou se reforma a sério ou pode acabar mal

Moedas assumiu a dianteira política. Marcelo escolheu as entrelinhas da História. Mas ambos puxaram as orelhas a Costa. Quando se perde tempo, acaba mal e há radicais à espreita dos vazios. Num 5 de outubro ensombrado pelas lições dos loucos anos 20, o Presidente pediu mudança: “Temos tempo e espaço para novos caminhos”

Nuno Fox

António Costa começou por dizer que tinha ouvido o discurso do Presidente da República nas comemorações do 5 de outubro “com os ouvidos”, mas a prova de que o percebeu muito bem é o resumo perfeito que fez das palavras de Marcelo. “É preciso antecipar as questões, para encontrar as boas soluções”, eis a síntese deixada pelo primeiro-ministro na Praça do Município, onde aproveitou o facto de estar de partida para a cimeira da Comunidade Política Europeia, em Granada, para tentar colar os recados do Presidente da República às questões com que se debate a Europa e o mundo. Só que, o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, falando da Europa e do mundo, foi muito para além disso.

Num registo politicamente mais cauteloso do que o de há um ano - quando aproveitou o dia da implantação da República para denunciar “erros, omissões, incompetências e ineficácias” na condução do país e lembrou que tinha o poder de dissolver o Parlamento - Marcelo nem por isso deixou de pôr o dedo na ferida que sente no país. E embora visivelmente condicionado pela necessidade de arrefecer a altíssima tensão instalada na sua coabitação com o chefe do Governo, as lições que foi buscar às entrelinhas da História são um claro desafio para que António Costa mude de registo.

Em sintonia óbvia com a mensagem levada pelo presidente da Câmara de Lisboa para a cerimónia - quando disse “temos que recusar imagens idílicas de nós mesmos”, Carlos Moedas perecia estar a falar para o irritante otimismo que Marcelo costuma encontra no Governo - o discurso presidencial deixou essencialmente três avisos.