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Política

Costa mantém guerra fria, mas sem escalar o conflito com Belém

Depois de episódio Galamba, Costa voltou a dar lição institucional a Marcelo. Mas não vai escalar o conflito.

Ana Baiao

Lição nº 1. “O peso do silêncio é maior do que o da palavra.” Tanto mais quando é aplicado contra alguém que raramente usa o silêncio como exercício de poder. Foi assim que o estratégico silêncio de António Costa na última reunião do Conselho de Estado foi visto nos círculos do Governo socialista: como forma de mostrar ao Presidente da República qual é a competência e a função (ou o “galho”) de cada um e de cada órgão. “O debate político faz-se com o líder da oposição”, que nem sequer tem acento no Conselho de Estado, disse António Costa aos jornalistas no rescaldo da mais recente polémica. Não com Marcelo — que, embora possa parecer, não é líder da oposição — e não no Conselho de Estado, que serve para aconselhar o Presidente e não para fiscalizar o Governo.

O desconforto já vinha de trás, quando o PR convocou um Conselho de Estado para o dia seguinte ao debate do estado da nação no Parlamento, mostrando que queria ter a última palavra. “O PR convoca o Conselho de Estado para quando entende e sobre o que entende”, desvaloriza uma fonte governativa. Mas nessa altura, em julho, o Expresso sabe que não caiu bem em São Bento a versão que foi tornada pública de que a reu­nião tinha acabado mais cedo por causa do avião que Costa tinha para apanhar — é ver as horas do voo, teria dado tempo, comenta-se. A questão é que Marcelo quis prolongar para setembro um Conselho de Estado que assumiu desde cedo ser de balanço de tudo o que correu mal à maioria absoluta — da TAP a João Galamba, passando pelas 13 demissões em catadupa. Na altura, até admitiu fazer uma comunicação ao país depois de ouvir os conselheiros. Não o fez. E não o fez depois de Costa ter deixado o Presidente a falar sozinho.