Galvanizado por um arranque de ano político mais bem sucedido do que o início de mandato, Luís Montenegro respondeu assim ao desafio deixado por Durão Barroso na Universidade de Verão do PSD: “Não tenham dúvidas, nós vamos ganhar as próximas eleições europeias”. O mesmo Luís Montenegro que tinha dito, numa entrevista à RTP, que perder as europeias por “2 ou 3 pontos” não era um “mau resultado”, eleva agora a fasquia depois de um agosto em que “não se falou de outra coisa na política portuguesa que não fosse o PSD”.
Com uma oposição “construtiva” e não “estridente”, o líder do PSD diz que vai continuar a ser através de propostas, projetos e ideias que o partido que perdeu as últimas europeias por 12 pontos, as vai agora ganhar: “Vamos fazer por o merecer”, disse na sessão de encerramento da Universidade de Verão dos jovens do PSD.
“O nosso programa de recuperação e resiliência do PSD é o programa que recupera o PSD porque o abre à sociedade, regenera ideias e propostas, não desaproveita os que vieram antes de nós, e fala do que as pessoas sentem a cada dia. Nós somos dos que têm resiliência, mas sabemos que a recuperação não se faz de um dia para o outro, sabemos que é preciso convencer as pessoas, ter os melhores connosco, e é isso que estamos a fazer: na saúde, na habitação, na emigração, na fiscalidade. Estamos a apresentar todos estes projetos como prova do nosso trabalho político e é com ele que vamos ganhar as próximas eleições. Não tenham dúvidas”, disse o líder do PSD aos jovens social-democratas.
Referia-se, primeiro, às eleições regionais já deste mês e setembro na Madeira ("teremos uma maioria absoluta que confira ao PSD a liderança do governo regional"), mas não só. Depois de o ex-primeiro-ministro e ex-presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, ter ido àquela mesma Universidade de Verão avisar o PSD de que não se deve distrair com as presidenciais de 2026 e deve-se concentrar nas europeias do próximo ano, que “tem de ganhar”, Luís Montenegro respondeu ao desafio reafirmando o que o antigo líder do PSD dissera.
“Quero reafirmar, sim, nós estamos aqui para ganhar as próximas eleições europeias”, disse, sublinhando que o vai conseguir através dos “candidatos” do PSD (que ainda não são conhecidos), mas também através das suas “propostas” positivas e, sobretudo, através de uma ideia-base que vai guiar todo o calendário eleitoral de Luís Montenegro: o contraponto com o PS e a necessidade de viragem de ciclo. “É preciso acordar os portugueses, pô-los a pensar: estes oito anos valeram a pena? Que evolução teve Portugal nestes oito anos? Os salários subiram em termos relativos? Os serviços públicos estão a funcionar melhor? Não, não estão”, atirou.
Se o conseguirá ou não, não sabe, mas vai já lançando sementes para os problemas internos que pode vir a ter no próximo verão - quando o PSD terá obrigatoriamente novas eleições internas. A recuperação não se faz de um dia para o outro, é preciso tempo, e o PSD tem “resiliência”. Além do mais, veja-se o exemplo do ex-presidente da Comissão Europeia, criticado por muitos por ter trocado Portugal por Bruxelas mas que Montenegro quer ver a história fazer-lhe justiça: perdeu umas eleições contra António Guterres (em 1999, acabado de chegar à ldierança do partido), mas “manteve-se na liderança e ganhou as legislativas seguintes”, que foram antecipadas. “Recuperação e resiliência” são as palavras-chave do líder do PSD.
A “habilidade” antecipada do OE 2024
Numa intervenção de quase uma hora no encerramento da Universidade de Verão do PSD, Luís Montenegro foi muito crítico da governação socialista e na forma como está a “perder o futuro”. Na habitação, Montenegro criticou a “arrogância” dos socialistas por se terem apressado a garantir que iriam reconfirmar o voto depois do chumbo do Presidente da República ("mesmo quando não há uma única personalidade do setor que apoie o programa") e, nas propostas de fiscalidade, antecipou uma “habilidade” que o primeiro-ministro irá fazer - seguramente - no momento de apresentação da proposta de Orçamento do Estado para 2024.
Depois de o PSD ter proposto, este verão, cinco ideias para a baixa do IRS, não só para a classe média mas também para os jovens, num valor equivalente a 1,2 mil milhões de euros ("metade da almofada que o Estado já arrecadou a mais em impostos), Luís Montenegro antecipa que António Costa e Fernando Medina vão chegar a outubro, vão aparecer com um Excel e um power point e vão dizer: ‘Nós até vamos descer mais os impostos do que o PSD queria’. “Mas não se deixem enganar, isso é conversa fiada, porque o que nós propomos é que baixem o IRS já em 2023, porque há margem para isso, e depois também em 2024, e o que o Governo vai fazer é baixar só para 2024. António Costa é um habilidoso, e eu sei, garanto, que é isso que ele vai fazer”, disse.
“Se o António Costa e o PS não aprovarem as nossas propostas, estão simplesmente a castigar ainda mais a classe média portuguesa”, sublinhou.
No final, e para completar o quadro de “dois anos de pandemia, seguidos de dois anos de pandemónio”, Montenegro instou a plateia a dizer uma reforma que o PS tenha feito com a maioria absoluta que os portugueses lhe conferiram ("digam uma!"), e criticou o adormecimento da sociedade perante as 13 demissões que o governo teve no último ano. “Se eu tivesse tido 3 demissões na direção do PSD, imaginem o que seria. Ele teve 13!!”, atirou.
“É preciso acordar Portugal para a falta de competência da liderança de António Costa, e nós vamos dar provas de que somos capazes de liderar o governo e o país com mais competência do que o PS”, concluiu.
O mês de agosto deu a Montenegro esse impulso. “Quase todas as intervenções do PS, do PCP, do BE, da IL, do Chega nos últimos 30 dias foram para comentar o que defende o PSD, e isto tem uma leitura: o PSD está a falar do que interessa às pessoas”, disse. Irá agosto estender-se para o resto do ano, ou o verão é sol de pouca dura?