António Costa decidiu esclarecer publicamente que nunca foi sua intenção desvalorizar a corrupção. Num artigo publicado no Observador, o primeiro-ministro diz ser “mentira” o que se concluíu das respostas que deu aos jornalistas quando, há uma semana, o questionaram sobre o caso do secretário de Estado da Defesa que se demitiu sob suspeitas de corrupção. “Não, não desvalorizo a corrupção”, escreve o chefe do Governo, oito dias depois de ter prestado declarações que motivaram um coro de críticas.
No artigo, o primeiro-ministro queixa-se de ter existido “a construção de uma mentira a partir da deturpação de uma resposta a uma pergunta … que não foi feita”. Costa refere-se ao dia do conselho de ministros informal, quando foi questionado sobre a situação e pouco mais disse do que “deixemos a Justiça funcionar”.
O primeiro-ministro transcreve as declarações que considera terem sido deturpadas e enfatiza o facto de “ninguém ter falado de corrupção. Nem os jornalistas me questionaram, nem eu quando lhes respondi”. E repete: “Não, não desvalorizo a corrupção”. Mas acrescenta: “Também não desvalorizo a mentira”.
Recorde-se que nas declarações em causa, quando foi questionado pela primeira vez sobre a demissão de Capitão Ferreira, que tinha acontecido na véspera, António Costa começou por remeter o caso para a Justiça. Perante a repetição da pergunta, que apertou o foco para o que levou à demissão do governante, disse que “sem querer diminuir aquilo que preocupa muito os comentadores e o espaço político", o que sente nas ruas “que preocupa as pessoas são temas bastante diferentes”.
E numa terceira insistência dos jornalistas, quando questionado sobre uma eventual remodelação, respondeu que o “foco” são “os problemas dos portugueses”
Esta reação à demissão de mais um membro do seu Governo, com origem num caso de suspeitas de corrupção na Defesa, foi alvo de críticas generalizadas, com Luis Marques Mendes a acusar o primeiro-ministro na SIC de passar “uma mensagem de que está a desvalorizar o combate à corrupção”. “É por coisas destas que se criou o monstro Sócrates. Estavam lá todos ao lado dele. António Costa, Santos Silva, eram todos ministros", acrescentou o comentador e conselheiro de Estado.
Marcelo Rebelo de Sousa, embora mais discreto, passou a ideia de que nem podia acreditar que o primeiro-ministro desvalorizasse o caso. Questionado sobre as declarações de António Costa, o Presidente da República respondeu: “Conhecendo o primeiro-ministro há oito anos, nunca diria que ele teria dito que a transparência ou a corrupção não era importante para os portugueses. Certamente não o disse”.
As declarações de António Costa há uma semana mostram que fugiu de comentar as suspeitas de corrupção que estavam em causa. A correção em forma de esclarecimento chega agora, oito dias depois, por escrito.