Luís Marques Mendes defendeu este domingo que a discussão em torno da eventual ida de António Costa para um cargo na UE é “artificial” e o primeiro-ministro não deverá arriscar face aos riscos para a sua carreira política. No seu habitual espaço de comentário na SIC, o conselheiro de Estado disse não acreditar nesse cenário, uma vez que o Presidente da República avisou logo que convocaria eleições antecipadas.
“Acho que seria o suicídio político de António Costa e entregava o poder de mão beijada a Luís Montenegro”, afirmou Marques Mendes no Jornal da Noite, sublinhando que Costa perderia a dois níveis: internamente e para o PSD.
Seria “mais grave” do que com Durão Barroso, notou, uma vez que na altura o social-democrata certificou-se de que a Assembleia da República (AR) não seria dissolvida caso avançasse para Bruxelas.
Se Pedro Nuno Santos for o sucessor na liderança do PS e candidato a chefe do Governo, a “solução mais provável” para o conselheiro de Estado, em caso de derrota o principal responsável seria António Costa e o primeiro-ministro tem noção disso. “A questão não é europeia, mas nacional. Quando o Governo tomou posse, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa definiu as regras”, vincou.
Na perspetiva de Marques Mendes, tratar-se-á assim de uma “campanha de marketing” político de reabilitação de imagem do primeiro-ministro, após vários casos no Executivo. “Dá sempre jeito quando o PM está em perda de popularidade cá dentro, nada melhor do que mostrar que a Europa o deseja muito. E depois António Costa diz ‘não vou’, fica um bonito gesto para eleitor ver”, atirou.
Questionado sobre se pode ser uma ideia da equipa de comunicação do PM, Marques Mendes disse que não estranharia se tivesse partido, por exemplo, de Luís Paixão Martins.
Galamba, ministro “infantil” e “impreparado”
Sobre as declarações de João Galamba sobre o novo aeroporto, o conselheiro de Estado sustentou que revelam um ministro das Infraestruturas “infantil” e “impreparado”. Considerar que é “longe” a localização de Santarém, quando “há uma comissão técnica independente a estudar as hipóteses” e foi o próprio executivo a sugerir que se acrescentasse essa alternativa foi um erro, segundo Marques Mendes, porque gera a perceção pública de que o ministro da tutela quer pressionar a Comissão. “No final, o ministro ou fica desautorizado ou sai com a fama de que condicionou a Comissão”, sublinhou.
Marques Mendes analisou ainda o cenário macroeconómico e conclui que o nível de vida dos portugueses não tem acompanhado os números positivos. Na opinião do comentador, a folga financeira estimada de cerca de 4 mil milhões de euros deve ser aproveitada para reduzir o défice, mas também para apoio nos medicamentos para reformados, apoio na habitação e apoio às Misericórdias e IPSS.
“Há quem diga que a folga deve ser usada para a consolidação orçamental ou para as pessoas, Bem nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Uma parte da almofada deve ser aproveitada para reduzir o défice, que é uma vantagem incalculável para país se proteger e para as novas gerações, mas há outra parte da folga que deve ser usada para medidas sociais”, concluiu.