Miguel Relvas acredita que "é uma questão de tempo" e que o PSD de Luís Montenegro vai acabar por "dar o seu grito do Ipiranga", isto é, vai "deixar de ser uma oposição... ternurenta, para ser simpático. Com um Governo socialista a oposição não pode ser ternurenta." O PSD, acrescenta, "não tem outra alternativa. Se não desaparece e é o país que perde com isso porque o país precisa de uma alternativa", explica o ex-ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares de Pedro Passos Coelho, um dos convidados desta semana do podcast Liberdade Para Pensar, que assinala os 50 anos do Expresso.
No episódio, que relembra 2012 e a grande manifestação de 15 de setembro contra o aumento da Taxa Social Única, Relvas elogia o antigo primeiro-ministro: “Hoje as pessoas lembram-se do Passos que salvou o país e não do Passos da austeridade. Encontro muita gente que me diz: posso não concordar com ele mas era uma pessoa decente”. E critica o atual Executivo chefiado por António Costa: "O que hoje se está a viver, esta questão com o SIS, se fosse um Governo de direita não teria sido o escândalo que foi", contrapõe, defendendo que "devia ter havido uma comissão parlamentar de inquérito à intervenção do SIS" no caso da recuperação do computador de Frederico Pinheiro, ex-adjunto de João Galamba no ministério das Infraestruturas.
“Se não fosse a PaF, CDS tinha acabado 7 anos mais cedo”
Quanto a 15 de setembro de 2012 e à medida que trouxe perto de um milhão de portugueses para as ruas, o então ministro lembra uma decisão que "ninguém queria tomar". E confirma que a ideia inicial foi de Vítor Gaspar mas como não correspondia a um aumento direto nos impostos recolheu "um certo consenso inicial", mesmo de Paulo Portas e do CDS - que depois vieram demarcar-se da ideia. "Poucos dias antes (do anúncio formal da medida) há um almoço em São Bento, onde não está Portas porque era ministro dos Negócios Estrangeiros e viajava muito, mas estão os ministros do CDS , que deram a sua concordância. E a negociação final do pacote com a troika foi feita por um ministro do CDS, Pedro Mota Soares. Há uma concordância antes da manifestação (de 15 de setembro) e das críticas e outra depois", ironiza o ex-ministro, que não poupa Paulo Portas neste regresso a 2012: "A TSU foi para Portas o ensaio geral do irrevogável" (o momento, em julho de 2013, quando apresentou a sua demissão do Governo como sendo "irrevogável", para acabar, menos de 24 horas depois, a ser nomeado vice-primeiro-ministro), diz.
Miguel Relvas admite mesmo que "se Passos não dá a mão ao CDS e a Paulo Portas com a coligação Portugal À Frente, o CDS tinha acabado sete anos antes".
Além de Miguel Relvas, este episódio do Liberdade Para Pensar conta também com a participação de João Camargo, um dos ativistas do Movimento Que se Lixe a Troika, que promoveu a manifestação de 15 de setembro. Nuno Botelho, fotógrafo do Expresso, relembra o "instante decisivo" em que captou a imagem - que se tornou icónica deste dia - de uma jovem a dar um abraço a um agente da polícia de choque na avenida da República, em Lisboa.
O episódio completo fica disponível esta sexta-feira no site do Expresso e nas várias plataformas áudio.