Os resultados das eleições autonómicas e municipais espanholas de domingo passado - uma hecatombe do PSOE que motivou Pedro Sánchez a pedir a dissolução das Cortes - suscitam naturais comparações entre os contextos políticos português e espanhol. Contribuindo para o debate, eis os pontos que considero mais relevantes:
- Pedro Sánchez tem um instinto político muito semelhante ao de António Costa. Provocar eleições antecipadas significa, sobretudo, pressionar o PP a concluir apressadamente as negociações para formar governo nas autonomias onde não obteve maioria (caso, por exemplo, da Extremadura). Até julho, o PP tem pois um desafio de magnitude: provar que consegue formar governos sem o VOX. Caso contrário, Sánchez passará a campanha para as legislativas a insistir que, tal como nas regiões autónomas, uma vitória do PP significará a entrada do VOX no governo de Espanha. Além do mais, poderá jogar com a disputa pelo protagonismo no PP. Parte da notoriedade de Isabel Diaz Ayuso – mais chegada à direita que Alberto Núñez Feijóo, líder dos populares - deve-se precisamente ao facto de governar a comunidade de Madrid sem precisar do VOX. Por outro lado, e como bom comunicador, Sanchéz procura colar o PP ao VOX, e ambos a Trump, enquanto suaviza a sua coligação governativa com a esquerda radical (que qualifica de coligação “social democrata”).