“Ao longo deste período todo só tive um contacto oficial sempre”, esclareceu esta quarta-feira o Presidente da República, sobre quem o informou do que se passou no Ministério das Infraestruturas na noite de 26 de abril e sobre a intervenção do Serviço de Informações e Segurança (SIS) no chamado caso Galamba. Esse contacto oficial foi com o primeiro-ministro, como se depreende das palavras do Presidente que acabou a clarificá-las numa declaração à Lusa.
"Somando um mais um, dá para perceber quem foi o alguém que contactou o Presidente da República no dia 29. É uma ilação fácil de estabelecer, uma vez que o senhor primeiro-ministro tomou a iniciativa de falar no contacto feito com o Presidente da República", declarou Marcelo Rebelo de Sousa esta quarta-feira de manhã. Mas ao final do dia, Marcelo clarificava, à agência Lusa, a sua divergência com a tese do chefe do Governo lembrando que este dissera “nunca” ter informado o PR da intervenção do SIS no caso Galamba.
Eis o que o Presidente declarou ao final do dia de ontem: que a pessoa com quem falou "é a mesma que declarou na Assembleia da República, no dia 24 de Maio, que tinha conversado com o Presidente da República no dia 29 de Abril e que não tinha então abordado o assunto SIS". Embora sem o mencionar diretamente, Marcelo refere-se ao primeiro-ministro e à garantia que Costa deixou, na passada quarta-feira, durante o debate na Assembleia da República: “Se eu disse de alguma forma que tinha informado o senhor Presidente da República sobre a intervenção do SIS, aproveito a sua pergunta para corrigir imediatamente. Eu nunca informei o senhor Presidente da República sobre a intervenção do SIS, que fique claro”. Marcelo desmente esta tese.
As suas declarações sobre o assunto começaram pela manhã quando foi questionado pelos jornalistas, num evento em Belém, sobre o papel do secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, António Mendonça Mendes, relativamente ao recurso ao SIS para recuperar o computador com matéria classificada no Ministério de João Galamba. Marcelo começou por não querer comentar mas insistiu só ter falado com uma pessoa: “Não tive um, dois, três, quatro contactos", explicou, "Concentrei os contactos numa só entidade oficial”. E essa entidade só podia ter sido o primeiro-ministro.
Anotando que “o senhor primeiro-ministro tinha publicamente afirmado que no contacto feito com o Presidente da República não tinha falado do SIS”, o Presidente acrescentou que “somando um mais um dá para perceber quem foi o alguém que contactou o Presidente da República no dia 29”. No dia 29, já era público o recurso ao SIS: o Expresso tinha noticiado no dia anterior e o ministro João Galamba tinha confirmado em conferência de imprensa. Nesse dia 29, questionado sobre o assunto pelos jornalistas que acompanharam a sua visita à Ovibeja, Marcelo disse que a primeira pessoa com quem falaria seria “com o primeiro-ministro”.
“É uma ilação fácil de estabelecer, uma vez que o senhor primeiro-ministro tomou a iniciativa de falar no contacto feito com o Presidente da República e disse que, nesse contacto [de 26-27], não se falou do SIS”, acrescentou. No debate parlamentar da semana passada, António Costa começou por dizer que, na noite de 26-27 de abril, falou com várias pessoas, incluindo com o Presidente da República, mas depois, questionado sobre André Ventura, sobre se tinha avisado o Presidente da República sobre o recurso ao SIS, o primeiro-ministro esclareceu que nesse contacto não informou Marcelo sobre o SIS.
Politicamente, a conclusão de Marcelo é que o ministro das Infraestruturas não devia continuar no Governo, coisa que agora esclarece ter decidido logo na primeira conversa com o chefe do Governo.
“O que eu disse aos portugueses no dia 4 de abril [quando defendeu a demissão de João Galamba], era o meu pensamento desde o início do meu conhecimento do processo”, esclareceu o Presidente. Concluindo: "No dia 29 já tinha na cabeça e continuo a ter na cabeça”.
"Pode haver situação económica boa e a política não ser"
Comentando os bons sinais da economia portuguesa, desde a descida do desemprego e da inflação ao crescimento das exportações, Marcelo avisou que está a acompanhar as três situações do país - económica, social e política - e que, apesar de a situação económica ser boa, a política pode não o ser.
"A inflação está a descer. Depende muito da posição do BCE manter a mesma política de juros, embora mais suave, ou começar a admitir que para a economia arrancar mais depressa o risco da inflação já não compensa uma política de juros tão alta. Há muitas promessas, cá dentro e lá fora, de uma queda acentuada da inflação. Todos desejamos isso, vamos ver se isso acontece", afirmou. Insistindo que é preciso avaliar as três frentes.