A cronologia dos acontecimentos no Ministério das Infraestruturas, dos incidentes do dia 26 de Abril, vai ficando mais clara, apesar de algumas dúvidas subsistirem sobre o alerta dado aos serviços de informações. O ministro das Infraestruturas acrescentou dados ao que tinha dito em conferência de imprensa, no dia 29 de Abril, dizendo três coisas: primeiro, referiu que o primeiro contacto que fez para membros do Governo foi para o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, já confirmado pelo próprio; depois, que quem lhe sugeriu que a PJ e as secretas deviam de ser informadas foi o secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, António Mendonça Mendes; e por fim, que conversou com o primeiro-ministro já na madrugada desse dia, contando o que tinha acontecido
Este último dado referido pelo ministro das Infraestruturas na audição da comissão de inquérito à tutela política da gestão da TAP foi dito em resposta ao deputado da Iniciativa Liberal Bernardo Blanco que considera que há uma contradição do primeiro-ministro.
Mas afinal, o que disse António Costa.
A primeira vez que o primeiro-ministro quebra o silêncio foi na noite de 1 de Maio, numa resposta oficial do seu gabinete ao jornal Observador. Nessa resposta, era dito que “o primeiro-ministro não foi nem tinha de ser informado. Nem tomou qualquer diligência” em relação ao acionamento das secretas. As perguntas ao gabinete do PM foram no sentido de perceber se “tinha dado alguma ordem ao SIRP” e “como tinha tido conhecimento dessa intenção de Galamba” de acionar o SIS, ou seja, não sobre a existência e informação prévia à atuação dos serviços de informações. “O Ministério das Infraestruturas deu – e bem – o alerta pelo roubo de computador com documentos classificados. As autoridades agiram em conformidade no âmbito das suas competências legais”, foi a resposta completa.
Chegado de Itália, onde esteve de férias, António Costa repetiria quase o mesmo em declarações à RTP, ainda no aeroporto.
“Há um roubo de um computador com informação classificada, o gabinete do ministro fez o que lhe competia, dar o alerta às autoridades e as autoridades agiram em conformidade. Não fui informado nem tinha de ser. Ninguém no Governo deu ordem ao SIS para fazer isto ou aquilo. O SIS agiu em função do alerta que recebeu”, acrescentou.
Dúvidas houvesse sobre a que se referia - ao acionamento das secretas e não à atuação posterior - reforçou. “Não houve nenhuma ordem aos SIS de São Bento nem de nenhum membro do Governo. O que houve foi um alerta relativamente ao roubo de um computador que tinha informação classificada e as autoridades agiram em conformidade com as suas competências”, disse.
Estas foram as declarações do primeiro-ministro nesse primeiro dia em que reagiu. Depois, reafirmaria o mesmo na declaração ao país em São Bento, no dia em que “segurou” o ministro João Galamba, defendendo a atuação do Ministério das Infraestruturas e fazendo a distinção entre o “alerta” ou a “participação” aos serviços e o seu “acionamento”.
Seria do SIS a responsabilidade da ação e para Costa o SIS não agiu mal. “Agiram no âmbito das suas competências próprias”. Disse o primeiro-ministro que pediu informações à secretária-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), Maria da Graça Mira Gomes, e que, do que lhe foi dito, não tem nada para achar “que agiu à margem da lei”. E mesmo que tivesse agido, “não seria responsabilidade do ministro, mas do diretor do SIS ou de mim próprio”.