Foi o primeiro-ministro quem, após ter estado naquele mesmo espaço há dois anos a apresentar ao Presidente da República as linhas gerais do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), manifestou a vontade de voltar a Belém para fazer um ponto da situação sobre a execução dos €16,6 mil milhões aprovados por Bruxelas para ajudar o nosso país no pós-pandemia. Mas o formato escolhido por Marcelo Rebelo de Sousa desta vez foi diferente. Após a sessão pública em que António Costa e a ministra da Presidência explicaram como, em matéria de execução dos fundos, Portugal está “no grupo da frente”, os dois governantes foram submetidos a uma sessão de perguntas com os membros da Casa Civil do Presidente — assessores temáticos que deram eco a dúvidas e queixas que chegam ao palácio —, o que, além da originalidade que é ver o Governo a prestar contas ao Presidente, e não ao Parlamento, resultou numa espécie de prova oral em Belém sobre um dos temas que mais tem distanciado Marcelo e Costa.
O Presidente salientou na parte pública da sessão que a iniciativa do Governo é um “exemplo de solidariedade institucional e estratégica” numa matéria em que “estamos todos juntos”, e António Costa até já convidou Marcelo para o acompanhar em visitas a projetos do PRR, num sinal claro de que a última coisa que quer é perder o apoio do chefe de Estado nesta frente. Mas na sessão à porta fechada o Presidente não escondeu o que lhe vai na alma — “senhor primeiro-ministro, de cada vez que falamos deste assunto parece que vemos dois países diferentes”, relatam alguns dos presentes.