Novo dia de Músicos em Belém, nova sucessão de declarações do Presidente da República sobre vários assuntos de atualidade: sobre os abusos, sobre o PRR, seobre a saída de Catarina Martins da lidernºa do Bloco de Esquerda, sobre imigração e, nesse assunto, sobre PSD, com fortes avisos sobre eventuais aproximações ao Chega.
Foi já a fechar as declarações aos jornalistas, que Marcelo Rebelo de Sousa foi desafiado a comentar as recentes declarações de Luís Montenegro e Carlos Moedas sobre imigração, pedindo implicitamente que o PSD se demarque do Chega: “A cópia perde sempre com o original”, disse, pedindo aos dirigentes sociais-democratas que não vão atrás da “emoção” e da tentação de “captar votos e ser mais populista”. Como o Expresso avançou no início do mês, a ambiguidade do PSD em relação ao Chega é uma preocupação do Presidente, que gostava de ver a liderança de Montenegro a descolar.
“Não se pode ir atrás da emoção, a emoção muitas vezes não é racional, e a cópia perde sempre com o original”, começou por dizer Marcelo esta terça-feira sobre as declarações de sociais-democratas relativas a políticas de imigração. E continuou sem nunca se referir diretamente ao Chega e ao PSD: "Declarações muito emocionais feitas em cima de casos correm o risco de ser irracionais e de irem a reboque de posições mais emocionais que terão sempre mais sucesso em termos de captar a opinião pública, captar votos e de ser mais populista", salientou o Presidente da República, que pediu “cabeça fria em vez de ir a correr atrás do prejuízo”.
"Quando se trata de um tema tão sensível como esse, nós temos de ter muito bom senso no seu tratamento. Estamos a falar de pessoas, de pessoas que são vítimas em muitos casos de redes de utilização de seres humanos, e estamos a falar de deficiências do funcinamento do enquadramento dessas pessoas na sua legislalização ou no acompanhamento da sua atividade laboral, e isso já é uma responsabilidade nossa", defendeu Marcelo, que foi mesmo crítico para os dois sociais-democratas que na semana passada tiveram declarações polémicas sobre imigração: Moedas a defender que só possam entrar em Portugal imigrantes com contrato de trabalho, Montenegro a defender que Portugal deve “procurar pelo mundo” as comunidades que possam interagir melhor com os portugueses. E rematou: “Um país com emigrantes espalhados pelo mundo não pode ter dois pesos e duas medidas.
A importância da alternativa em democracia
A ocasião também foi aproveitada para comentar as mudanças no Bloco de Esquerda. Momentos após o anúncio de que Catarina Martins não será recandidata à liderança do Bloco de Esquerda, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou os sete anos de diálogo quase semanal para deixar o cumprimento à ainda líder bloquista, mas também para deixar alertas ao Governo e aos outros partidos da oposição, quase que num apelo a que se renovem e se afirmem como alternativa ao PS.
“Faz parte da vida da democracia os partidos mudarem e todos percebemos os desafios que se colocam ao sistema político português. Por um lado, quem é governo tem de governar bem e tem uma ocasião única para o fazer. Por outro, as oposições têm de se reformular, porque de um lado e do outro têm de pensar no seu papel no futuro, que alternativas oferecem”, disse o Presidente à margem de mais uma iniciativa Músicos em Belém.
"Ter alternativa é muito importante em democracia. É preciso que os portugueses olhem e vejam alternativas para o caso de nos sentirmos cansados e entendermos que esta solução, ao fim de três legislaturas, está esgotada. É isso que os partidos todos estão a procurar", disse.
Os alertas de Marcelo continuaram, focados na execução do PRR. Em véspera de um encontro com António Costa e o Governo sobre este assunto, Marcelo considerou o “tema muito sensível” e lembrou que o dinheiro ainda não chegou "aos destinatários finais". Esta quarta-feira, o Governo vai apresentar ao Presidente um ponto de situação do PRR: a sessão será em parte pública, havendo depois um período fechado apra perguntas e respostas, à imagem do que eram as reuniões no Infarmed sobre a Covid-19.