Caderno de encargos, consulta a várias empresas e adjudicação a uma delas por mais de quatro milhões: tudo feito pela SRU - Sociedade de Reabilitação Urbana, a empresa municipal responsável pelas obras em Lisboa. A assinalar os quatro anos desde a escolha de Portugal como sede da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o bispo Américo Aguiar repetiu a ideia que tinha deixado na quinta-feira e que aponta para Lisboa como a principal responsável pelos valores entretanto conhecidos para o altar-palco no Parque Tejo. Mas também disse: “a responsabilidade é das entidades organizadoras”, ou seja, Câmara de Lisboa, Governo e Igreja. “É nossa”, vincou.
O bispo insistiu, aliás, que o “passa-culpas não resolve o problema a ninguém” e deixou nota de que “todos os processos que temos em mãos”, e que incluem outros palcos, “vão ser tratados de maneira diferente”. Leia-se, a Igreja quer evitar novas surpresas, custos elevados e contestação pública. Ou, como disse o bispo, “evitar que aconteça o que aconteceu”.
A visita teve a presença de Augusto Santos Silva, que, como segunda figura do Estado, inaugurou mais uma placa no quartel-general em que se prepara a Jornada, na zona do Beato, em Lisboa — “Beato”, nome apropriado, gracejou o presidente da Assembleia da República.
A ocasião para comemorar estava, no entanto, ensombrada pela última semana, em que os custos da JMJ dominaram o debate público. Américo Aguiar agradeceu novamente “o escrutínio da comunicação social” e sugeriu mesmo que é graças a ele que “vamos sentar-nos para a semana, para que possamos pegar no documento e separar o que é essencial do que não é”. Sem dizer de que é que a Igreja está disposta a abdicar ou alterar.
Sem especificar também o dia, o bispo deixou a garantia de que todas as entidades, Mota Engil, Câmara de Lisboa, através da SRU, unidade de missão e Igreja, vão tentar encontrar uma solução mais barata. A saída não se adivinha fácil, uma vez que o contrato está feito e, como afirmou na quinta-feira à noite o vice-presidente de Lisboa, Anacoreta Correia, “realisticamente, parece difícil” fazer grandes alterações ao projeto.
Esta tarde também o Vaticano se demarcou de qualquer relação ou exigência acerca do altar.
As referências são sobre o altar-palco principal, que vai ficar no Parque Tejo, já adjudicado à Mota Engil, mas há outros. Como o Expresso avançou na quinta-feira, o projeto que estava a ser pensado para o Parque Eduardo VII, que acolhe o Papa à chegada, custaria acima de um milhão de euros. Marcelo Rebelo de Sousa fez pressão para o travar, a Igreja e a Câmara de Lisboa seguiram a ordem. Falta saber que solução encontram.
Santos Silva não vê contestação social
A visita foi curta, cerca de 20 minutos nas instalações do Beato, e as declarações também. Augusto Santos Silva lembrou até que não tem “funções que permitam” responder a algumas perguntas, que foram todas direcionadas para a questão dos custos.
Ainda assim, o presidente da AR disse “nenhuma contestação social” depois de conhecidos alguns desses custos. Pelo contrário: “Vejo grande júbilo em todo o país.”
Santos Silva afirmou ainda que a análise sobre a Jornada não deve ser reduzida “à análise de custo-benefício”, mas que, a ser feita, essa análise mostra “evidentemente um enorme benefício que Portugal”.