Francisco Assis, o socialista que preside ao Conselho Económico e Social (CES), desistiu de apresentar o livro do jornalista Luis Rosa em que o ex-governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, acusa o primeiro-ministro de o ter pressionado para proteger Isabel dos Santos, noticiou o Público e confirmou o Expresso junto da editora D. Quixote.
Após ter aceite apresentar em conjunto com Luís Marques Mendes a obra intitulada “O Governador”, esta terça-feira, na Fundação Gulbenkian, Assis comunicou a sua indisponibilidade, ficando de enviar uma mensagem para ser lida na sessão a justificar a ausência.
A desistência do socialista terá sido comunicada após o primeiro-ministro tornar pública a decisão de processar Carlos Costa, por este afirmar no livro que António Costa lhe terá dito que não se pode “tratar mal a filha do Presidente de um país amigo” para assim tentar proteger a posição da empresária na administração do BIC.
Recorde-se que, pouco depois de chegar a primeiro-ministro, Costa avançou com um decreto prontamente promulgado por Marcelo Rebelo de Sousa para desbloquear os estatutos do BPI, permitindo a venda da participação da empresária angolana aos espanhóis do La Caixa o que se traduziu na saída de Isabel dos Santos do banco.
No polémico livro, o ex-Governador relata como terá sido pressionado pelo chefe do Governo para, num contexto de alegada contrapartida para a empresária angolana, evitar que esta fosse afastada da administração do BIC como tinha sido decidido pelo banco central.
Com o prefácio de Christine Lagarde, o livro é um testemunho de Carlos Costa sobre as funções que exerceu entre 2010 e 2020 e inclui a sua versão sobre este e outros casos que marcaram o seu mandato nos “10 anos mais críticos da história recente do país”. Num capítulo publicado pelo Observador, o ex-governador relata precisamente como após ter decidido afastar a filha de José Eduardo dos Santos, em 2016, terá sido contactado pelo chefe do Governo para não o fazer.
Na sequência destas revelações, António Costa anunciou que iria avançar para tribunal, depois de ter contactado o ex-governador e de não ter obtido um pedido de desculpas. Em declarações aos jornalistas, na quinta-feira, o primeiro-ministro disse que as declarações proferidas são “ofensivas” do seu “bom nome, honra e consideração”.
Num outro capítulo, divulgado pela TVI, lê-se que Carlos Costa também terá sido pressionado por António Costa antes deste chefiar o Governo, durante um almoço que decorreu na sede do Banco de Portugal. Nesse almoço em 2015, o então apenas líder do PS terá dito que havia “três problemas” com o regulador e que um deles era “a existência de um alegado preconceito quanto a nomear militantes ou pessoas próximas do PS, que eram quadros do Banco de Portugal”.
António Costa referia-se a Mário Centeno, que viria a ser ministro das Finanças em 2015 e que concorrera a director do Departamento de Estudos Económicos do banco central, não tendo sido selecionado.