Marcelo Rebelo de Sousa já tinha descido da tribuna e estava a partir da Esplanada dos Ministérios quando Jair Bolsonaro, do alto de um carro de som estacionado em outro ponto do eixo central da capital brasileira, puxou o coro que marcaria as comemorações do bicentenário da independência do Brasil: “Imbrochável, imbrochável, imbrochável.”
A palavra, repetida aos gritos para entusiasmo dos muitos milhares de apoiantes do Presidente brasileiro presentes em Brasília, não consta do dicionário da língua portuguesa mas acabaria por marcar o dia, ocupando as páginas dos jornais, inclusive do “New York Times”. Mas, mais relevante do que o enaltecimento público da virilidade de Bolsonaro, a palavra serve de metáfora para todo o tom do desfile comemorativo da separação efetiva, há 200 anos, entre Portugal e o Brasil. Um tom que, embora polémico, não bastou para deixar o chefe de Estado português desconfortável por ter ali estado presente, posicionado num local central na bancada ocupada pelos convidados VIP que assistiram ao evento. Pelo contrário: Marcelo reivindicou um papel histórico neste bicentenário que, disse várias vezes, “muitos não entendem”.