Mal se soube que José Eduardo dos Santos tinha morrido, Marcelo Rebelo de Sousa disse que iria ao funeral. “O Presidente José Eduardo dos Santos foi o interlocutor de todos os Presidentes portugueses em democracia, durante quatro décadas, constituindo um protagonista decisivo nas relações entre os nossos Estados e povos”, afirmou Marcelo a 8 de julho. E é na convicção de que o ex-Presidente angolano teve um papel central na “fraternidade, amizade e relacionamento tão longo” entre os dois países, que o chefe de Estado português estará, este domingo, no adeus ao líder histórico do MPLA.
A autorização para o Presidente se deslocar a Luanda para este efeito foi votada favoravelmente por todos os partidos na Assembleia da República, mas há nos bastidores da política nacional quem questione a oportunidade desta presença, sobretudo num momento de particular mudança no xadrez político angolano, ganhe quem ganhar as eleições. A questão é se não seria mais sensato Marcelo não se colar ao cerimonial que o MPLA é acusado de ter montado para condicionar o expectável crescimento da UNITA. Questionado sobre o assunto, Marcelo respondeu, logo em julho, que a sua presença “decorre da natureza dos factos”. E tem a seu favor o facto de ser ele, neste momento, o mais bem posicionado, entre todos os líderes da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), para fazer pontes com os dois lados da disputa angolana.