Política

Sérgio Figueiredo renuncia ao lugar de consultor de Medina

Contrato não chegou a ser assinado. Ex-diretor da TVI anuncia decisão num artigo no Jornal de Negócios onde se queixa de insultos e "ataques raivosos"

JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

O contrato que tornaria Sérgio Figueiredo consultor do Ministério das Finanças não chegou a ser assinado. O antigo diretor da TVI (e de outros órgãos de comunicação social) renunciou ao contrato que tinha negociado com Fernando Medina e que tanta polémica levantou.

"Não há outra forma de o dizer: desisto. Ficou insuportável tanta agressividade e tamanha afronta, tantos insultos e insinuações. Não tolero estes moralistas sem vergonha, analistas sem memória. Vergo-me aos assassínios de caráter, atingido pela manada em fúria, ferido por um linchamento público e impiedoso", escreve Sérgio Figueiredo num artigo publicado no Jornal de Negócios em que dá conta da sua decisão.

O Expresso tinha questionado o Ministério das Finanças, na sexta-feira (dia anunciado para a assinatura do contrato) e esta terça-feira, sobre a confirmação da assinatura do contrato e o início de funções de Sérgio Figueiredo. Sem resposta em ambos os dias. Agora, Sérgio Figueiredo esclarece que não chegou a assinar.

"Sou a partir deste momento o ex-futuro consultor do ministro das Finanças. Sossego as almas mais sobressaltadas de que não cheguei a receber um cêntimo, sequer formalizei o contrato que desde a semana passada esperava pela minha assinatura. Nunca até hoje trabalhei para o Estado", lê-se no artigo.

A contratação de Sérgio Figueiredo para consultor do ministro das Finanças motivou críticas de vários partidos, que pediram explicações sobre o contrato. Como o Expresso contou na última edição, também no PS havia desconforto com a decisão de Fernando Medina em ter um consultor com salário de ministro e sem exclusividade. Já na sexta-feira, o primeiro-ministro deixou toda a responsabilidade sobre o ministro, dizendo que não tinha nada a ver com esta contratação.

Não foram, contudo, os pedidos de explicações dos partidos, o desconforto do PS ou o descontentamento do primeiro-ministro que levaram Sérgio Figueiredo a desistir. Foram opiniões como a de João Bilhim em entrevista ao Público ou o comentário de Marques Mendes na SIC que mais tocaram o consultor.

"O que mais me espantou foi ver pessoas de ar respeitável considerarem que a minha contratação foi o ato governativo que mais desqualificou a Função Pública desde a fundação da República! Ou que a minha contratação ofendia todos os técnicos que trabalham no Estado! Assim, coisas tão definitivas, sem tentarem sequer saber exatamente quais eram as funções que me esperavam", queixa-se Sérgio Figueiredo, que se considera vítima de "uma polémica que atingiu um raro nível de ataques raivosos e agressões verbais".

"Perante isto e diante de todos, capitulo. Pelos jornalistas que passaram por gabinetes ministeriais, amnésicos e pungentes, com juras de ética e a mão no peito. Que favores terão feito a esses políticos quando estavam nas redações ou depois, quando a elas regressaram?! Pelos cronistas e croniqueiros, a maioria surgida sabe-se lá de onde, gente obscura com quem nunca me cruzei na vida, mas que falam sem qualquer escrúpulo sobre mim, o que sei ou o que não sei fazer", contra-ataca o consultor que, no longo artigo, tenta rebater o que chama de "4 mentiras por detrás de uma desistência": os favores, os salário, as funções e a exclusividade/conflitos de interesse.