O Governo decidiu avançar com um aeroporto temporário no Montijo e com uma solução mais estrututal em Alcochete sem falar com o PSD. A confirmação foi dada pelo ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, que disse que o novo líder do PSD, Luís Montenegro, se "pôs de fora" da decisão e que era "preciso decidir" sobre o novo aeroporto da capital.
Em entrevista à RTP, o ministro lembrou que, ao pedido de consenso feito pelo primeiro-ministro em torno deste tema, o líder eleito do PS respondeu com uma "declaraão muito desagradável", "pondo-se de fora" do debate. Montenegro respondeu, no início do mês, que não lhe competia resolver as incompetências do Governo "Foram declarações de alguém que se quis pôr de fora. E temos de decidir", respondeu.
"Andamos há anos demais a decidir. Já chega. O país está sistematicamente a decidir localização de aeroporto. Não havia nenhuma decisão que não fosse alvo de críticas, por isso vamos avançar", disse o ministro.
"Não é a primeira vez que o PSD faz isto. Se o [atual] lider do PSD não tivesse mudado de opinião, o Montijo estaria hoje em obras", disse Pedro Nuno Santos referindo-se ao facto de Rui Rio ter adiado a opção do anterior Governo ao ter exigido uma Avaliação Ambiental Estratégica com várias localizações para poder dar o ok e mudar uma lei, que dá direito de veto às autarquias abrangidas sobre projetos desta natureza. Foi o veto anunciado de duas câmaras, Moita e Seixal, que impedia a realização da opção Montijo, agora, o PS, com maioria absoluta pode alterar a lei sem que seja necessário o apoio do PSD.
Ainda do ponto de vista político, Pedro Nuno Santos foi confontado com as declarações do Presidente da República que disse não ter tido conhecimento antecipado da decisão. O ministro começou por dizer que a "relação com o Presidente da República é óptima" e que a solução encontrada vai ao encontro daquilo que "o Presidente tinha identificado".
"Foi sempre havendo conversas", com Marcelo Rebelo de Sousa, disse. Mas informou o Presidente do que ia anunciar hoje? "Hoje não. Não informo o senhor Presidente de todas as decisões que vamos tomando no Ministério das Infraestruturas."
Alcochete é "solução óptima"
Sobre a decisão em si, o ministro defendeu que "Montijo dá uma solução rápida" e que avançar para Alcochete demoraria muito tempo. "Alcochete tem muito espaço para crescer, mas tem um problema, demora muitos anos. E o país está a perder milhares de milhões de euros todos os anos", justificou.
"Não podemos continuar mais anos a perder milhares de milhões de euros de receitas, num país que é pobre. Precisamos conjugar uma solução de curto prazo com uma solução estrutural", respondeu quando questionado sobre o porquê de o próprio ministro ter defendido no Parlamento que Alcochete não seria uma solução viável. "Isso tudo é verdade. O que era preciso mostrar é que parecia que havia uma solução péssima e uma ótima. Isso não existe, em aeroportos temos sempre problemas. Alcochete tem sempre desvantagens, que é o tempo que demora" e por isso não poderia ser uma solução para o problema de curto prazo, uma vez que o Aeroporto Humberto Delgado esgotou a sua capacidade.
"Nós chegámos à solução ótima, que é a que permite uma solução de curto prazo ao país, ao mesmo tempo que começamos a trabalhar numa solução que tenha futuro", insistiu.
Sobre os custos de uma solução a dois tempos, Pedro Nuno Santos respondeu que quem pagará os aeroportos "será a ANA e não o Estado" e que o Governo vai começar a trabalhar com a ANA para esta nova solução que inclui Alcochete.
Perante as dúvidas sobre o porquê de o Governo não avançar logo para Alcochete, fazendo este aeroporto por fases como chegou a estar definido num projeto de execução ainda do Governo de José Sócrates, o ministro respondeu que qualquer solução que passasse já para Alcochete demoraria sempre "13 anos", isto porque a Declaração de Impacto Ambiental "caducou e o projeto está ultrapassado".
"Seja faseado ou não, temos sempre de começar Alcochete do zero. Demorará sempre dez anos. Não podemos esperar estes anos porque iríamos perder milhares de milhões de euros", acrescentou.
Ainda nas respostas na RTP, Pedro Nuno Santos não quis falar sobre a possível necessidade de uma terceira ponte sobre o Tejo para haver ligação a Alcochete: "Vamos com calma", disse.