Política

PSD de Setúbal desafia PS a derrubar a câmara (para já, socialistas recusam)

A estrutura local do PSD lança um repto ao PS para uma aliança com o objetivo de fazerem cair a câmara da CDU, por causa da crise da receção dos emigrantes. Socialistas dizem que não é o momento. Seria necessário que todos os vereadores e membros das listas renunciassem

Diego Delso

O PSD de Setúbal já tinha pedido a demissão do presidente da Câmara, André Martins, dos Verdes. Agora, num comunicado a que o Expresso teve acesso, os sociais-democratas setubalenses colocam no PS o ónus da continuação da câmara da CDU e propõem um entendimento com os socialistas, para que os vereadores da oposição se demitam para fazer cair o executivo comunista. A CDU tem cinco vereadores, o PS tem quatro e o PSD tem dois. Mas seria preciso que todos os vereadores e membros das listas renunciassem, uma vez que os mandatos pertencem aos eleitos e não ao partido.

"Há 'linhas vermelhas' que não devem ser ultrapassadas. Sabemos, no entanto, que as responsabilidades políticas, muitas das vezes, não são assumidas", escreve a comissão política concelhia do PSD sadino em comunicado emitido esta terça-feira. "Para que este não seja mais um desses casos, o PSD lança o repto ao Partido Socialista para que estes dois partidos da oposição, maioritários na Câmara Municipal de Setúbal (CMS), renunciem caso o executivo comunista não o faça."

Contactado pelo Expresso, Fernando José, vereador do PS, distancia-se dos sociais-democratas: "Neste momento não pedimos a demissão. O PCP é que tem de ver se tem condições para continuar. O vereador socialista diz "esperar que seja tudo apurado" e que será "o presidente da Câmara a ter de tirar essas consequências". E contextualiza: "Até agora, temos tido a posição de que os factos têm de ser apurados. Tudo indicia que existam ilegalidades e há irregularidades na proteção de dados. Temos de saber se esses dados estão na CMS ou se saíram".

Fernando José aponta a reunião de câmara desta quarta-feira como o momento para o autarca da CDU, André Martins, "dar esses esclarecimentos". Para o socialista, a Câmara tem "um presidente que foi escolhido nas eleições" e considera que não lhes cabe "pedir a demissão" sem haver fundamento". E remata: "Os factos têm de se apurados, não estamos na política para show off".

No comunicado, o PSD lembra que, na última reunião da Câmara, a 20 de abril, os vereadores do PSD "alertaram sobre a forma como os refugiados de guerra da Ucrânia têm sido recebidos pela estrutura do município de Setúbal" e não ficaram satisfeitos com a resposta do executivo camarário. "Entretanto, nada foi feito pelo executivo para alterar os procedimentos", acusam. "Só se tomou conhecimento da extrema gravidade do que estava em causa com a publicação do Expresso, a 29 de Abril, uma vez que os refugiados ucranianos eram recebidos por 'russos pró-Putin'. Por essa razão, pedimos a demissão, nesse mesmo dia, sem consequências até hoje", alegam os sociais-democratas sadinos.

"A população considera tudo isto [a crise da receção dos refugiados] incompreensível", diz ao Expresso Paulo Pisco, líder da concelhia do PSD. Mas reconhece que ainda não conversou com responsáveis do PS sobre o assunto.

"Para o PSD esta é uma questão de princípio", tendo em conta "a gravidade do sucedido, a que todos os dias se vêm juntando novos desenvolvimentos". O PSD de Setúbal quer o "apuramento de responsabilidades políticas, independentemente de outro tipo de responsabilidades envolvidas", segundo o comunicado da estrutura local.