Era agora ou nunca. Marcelo Rebelo de Sousa pressentiu que tinha o terreno da opinião pública sólido e maduro para dar o passo e aproveitou “que as pessoas estão hoje mais sensíveis” para o tema da Defesa por causa da guerra na Ucrânia, para fazer o primeiro discurso presidencial do 25 de Abril focado nas Forças Armadas. Quando pediu “mais meios imprescindíveis” para os militares, tinha um alvo na mira: o novo ministro das Finanças. Menos que para António Costa, o Presidente da República apontou a Fernando Medina, no sentido de criar no governante que assina as despesas uma sensibilidade em relação à Defesa que, na perspetiva de Belém, os anteriores ministros das Finanças (Centeno e Leão) não tiveram. Quanto à reação apaziguadora de Costa, não se vislumbra em Belém a “sintonia” de que o primeiro-ministro falou.
Mais do que soluções imediatas para o Orçamento do Estado que está a ser apreciado no Parlamento, o Presidente espera que o Governo tenha “uma perspetiva a prazo”, para o país estar preparado para “um novo modelo geopolítico, com um novo equilíbrio de poderes e mudanças radicais”. Se a Finlândia e a Suécia entrarem na NATO, ou a China e a Índia deixarem de ser tão “cuidadosos” nas suas posições, o mundo será outro, explicou Marcelo esta quarta-feira numas declarações aos jornalistas em que fez a leitura do seu próprio discurso. É aqui que entra o fator Medina: a visão estrutural para um novo paradigma de segurança exige decisões que vão fazer aumentar a despesa — independentemente da meta de 2% do PIB acordada com a NATO —, mas também há decisões menores, de gestão corrente, que têm sido bloqueadas pela Praça do Comércio.