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Política

Meta de 2% da NATO custa mil milhões a Portugal

Em dez anos, os três ramos das Forças Armadas perderam €127 milhões para manutenção, treinos e operações. Os cortes foram deixando marcas, a longo prazo, nos equipamentos e na prontidão. Estão no “limiar mínimo”

Horácio Villalobos/Corbis/Getty Images

Nos dias 3 e 4 de março, uma equipa da NATO reuniu-se com representantes portugueses no âmbito do ciclo de planeamento da Aliança Atlântica — o chamado NATO Defense Planning Process —, em que são avalia­das as reais capacidades militares de cada país. As visitas aos Estados-membros ocorrem de dois em dois anos, a que se segue um relatório confidencial sobre o estado das respetivas Forças Armadas. Embora as recomendações se mantenham secretas, em Portugal a NATO encontra um país com uma carência superior a quatro mil efetivos e deficiências na prontidão dos meios, onde o Exército, a Marinha e a Força Aérea perderam, desde 2010, €127,4 milhões nos seus orçamentos de “operação e manutenção”, ou seja, os militares têm mais equipamentos mas menos 36% das verbas para treinar as tropas, operar os meios e fazer as manutenções programadas de modo a mantê-los prontos para combate. A nova ministra, Helena Carreiras, a primeira mulher na Defesa, terá uma tarefa difícil: com uma guerra na Europa, vai tutelar um sector em mínimos de pessoal e orçamento.

Neste momento crítico, em que a invasão russa da Ucrânia faz soar os alarmes nas capitais europeias, a NATO está a pedir aos países para aumentarem as despesas militares e a União Europeia aprovou a “Bússola Estratégica”, em que os 27 Estados-membros se comprometem a “aumentar substancialmente as despesas no sector da defesa”, de modo a “reduzir as lacunas críticas em matéria de capacidades”. A Alemanha, que, segundo dados da NATO, gastava em defesa uma percentagem do PIB semelhante à de Portugal (1,5%), vai ultrapassar os 2% e investir €100 mil milhões em armamento nos próximos anos. Para atingir o compromisso com a NATO de 2% de gastos com a defesa — se considerarmos os números que são reportados à Aliança —, Portugal teria de aumentar as despesas militares pelo menos em €973 milhões até 2024, cerca de mais um terço do que despende hoje (refira-se que o orçamento do Ministério da Defesa pesa apenas 1,1% no PIB, mas a NATO considera que Portugal gasta 1,55%, porque contabiliza a GNR como força militarizada e as pensões dos militares).