A entrada de Alexandre Guerreiro no Conselho Científico no Centro de Investigação de Direito Público da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (CIDP) foi deixada em stand-by, para posterior análise, tendo a universidade decidido "por unanimidade" integrar no mesmo órgão os restantes candidatos, confirmou ao Expresso Carlos Blanco de Morais, coordenador científico do Centro. O antigo analista do Serviço de Informações Estratégicas e de Defesa (SIED) tem feito comentários televisivos polémicos sobre a guerra na Ucrânia, em que alinha frequentemente com posições da Rússia.
Contactado pelo Expresso, Alexandre Guerreiro diz não fazer "a mínima ideia do que se trata". Já Carlos Blanco de Morais diz que não há "delitos de opinião" na universidade e confirma que o processo voltará a ser analisado. Para já, Alexandre Guerreiro está convidado para um painel de discussão precisamente sobre a guerra na Ucrânia, onde estará por exemplo o também comentador Nuno Rogeiro.
Falta de suporte jurídico nas posições públicas terá sido, segundo a revista Visão (que avançou primeiro com a informação, mas falando de uma expulsão), o fator considerado relevante para pôr em suspenso a entrada no Conselho Científico do centro. A decisão foi tomada por unanimidade pelo CIDP, o órgão que tutela e define as linhas temáticas da investigação nas áreas do Direito Público, Ciência Política, Direito Constitucional, Administrativo, Europeu e Internacional na FDL: o coordenador científico Carlos Blanco de Morais, professor catedrático, debateu o ponto de vista da liberdade de expressão, mas acabou por votar a favor.
Nem Maria Luísa Duarte, a sua orientadora no doutoramento - em cuja tese Guerreiro defende a legalidade da anexação da Crimeia, terminando o curso com 17 valores -, esteve presente, acrescenta a revista. O advogado Sérvulo Correia, que é presidente do Conselho Científico e que, por isso, não costuma participar nas votações, explica a "Visão", defendeu a exclusão de Alexandre Guerreiro, mas terá sido quem desbloqueou o problema, propondo a integração de todos os restantes candidatos, deixando este para análise posterior.
"Não desminto o que não sei se é verdade", diz o investigador ao Expresso. "Pelo nível de detalhe e pela celebração efusiva da diretora da revista [Visão], é possível que tenha alguma coisa que é verdade. Mas acho estranho. Ninguém me contactou para falar sobre o assunto, nem sabia que ia haver uma reunião e ainda há dias me convidaram para uma conferência no dia 5 sobre uso da força. Não comento o que não conheço, nem hipóteses", afirma. "Comento apenas o que tenho conhecimento. Se a notícia se confirmar, aí pronuncio-me."
Em fevereiro, dez dias antes da invasão russa da Ucrânia, Alexandre Guerreiro esteve em Moscovo, na MGIMO, uma universidade de elite ligada ao ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, para participar numa conferência, onde expôs o seu entendimento sobre a legalidade de uma eventual intervenção russa no Donbas - cujo relatório ou resumo terá sido enviado ao Kremlin, disse o próprio ao Expresso, à "Sábado" e à SIC.
Embora recuse o rótulo de comentador pró-russo, Alexandre Guerreiro já chegou a aparecer num jornal de Moscovo como uma das raras vozes que defendiam a Rússia, envergando uma t-shirt com a cara de Vladimir Putin. E sobre cujo regime tem esta opinião: “Vejo a Rússia como dispondo de um sistema político democrático e livre, à semelhança dos sistemas ocidentais e em que há uma influência expressiva da religião na orientação da vida política e social”, chegou a dizer ao Expresso. E acrescentava: “Ao contrário do que sucede no Ocidente, na Rússia há um respeito considerável pela história recente e passada e não se vislumbram manifestações de culto da personalidade a Putin.”
Nota: notícia corrigida às 23:35 sobre o sentido de voto de Carlos Blanco de Morais (não votou contra, votou a favor) e de Maria Luísa Duarte, que não esteve na reunião. E foi acrescentada com informações e declarações de Carlos Blanco de Morais, precisando que o que aconteceu envolvia o Conselho Científico da faculdade.