Seis membros da Comissão Política Nacional (CPN) e quatro membros de comissões regionais do PAN apresentaram esta segunda-feira a demissão do cargo, queixando-se de “total asfixia democrática interna”, no rescaldo das eleições legislativas. Aliás, seriam 10 elementos da direção no total, caso o Tribunal Constitucional (TC) tivesse aprovado as alterações estatutárias, que previam que a direção passasse a incluir, além dos 27 membros, um representante eleito por cada Comissão Política Distrital e Estrutura Regional Autónoma. As renúncias e denúncias acontecem dois dias depois da reunião da direção, que decidiu no sábado auscultar as bases do partido sobre a estratégia de Inês de Sousa Real, descartando para já a realização de uma reunião magna.
Entre as saídas encontram-se Nelson Silva, o ainda deputado à Assembleia da República e membro da Comissão Distrital de Lisboa; Pedro Neves, o porta-voz regional e deputado à Assembleia da Região Autónoma dos Açores; o porta voz regional e cabeça de lista pela Região Autónoma da Madeira, Joaquim de Sousa; e vários representantes e membros de comissões distritais e regionais entre os quais Paulo Baptista e Ricardo Cândido de Faro; Sónia Domingos dos Açores, Vítor Pinto de Setúbal, Carolina Almeida de Viseu, Fábio João de Castelo Branco e o membro da mesa da direcão, Jorge Alcobia.
Os demissionários manifestaram-se contra o chumbo da proposta para a realização de um Congresso Eletivo Extraordinário, com vista à “discussão e balanço das eleições legislativas” e a retificação dos estatutos, na sequência do indeferimento pelo Tribunal Constitucional (TC).
“Apenas uma entropia pode justificar a resistência em não querer reconhecer os próprios erros: uma mensagem de posicionamento político difuso após eleições, uma estratégia de comunicação e design falhadas e completamente contrárias às soluções internas que tinham sido bem sucedidas no passado, a aposta num discurso de campanha monotemático e repetitivo e o pouco espaço deixado para o PAN continuar a ser disruptivo”, afirmam os membros demissionários em comunicado.
Acusando a direção de “falta de maturidade” e “lucidez política” na análise dos resultados eleitorais, os dez comissários lamentam a descida “dramática” dos votos, que levaram o partido a perder o grupo parlamentar e a eleger apenas Sousa Real como deputada única.
Para os ex-membros da CPN, a auscultação aos filiados através de um périplo pelas concelhias, “não é suficientemente democrática”, considerando que só o Congresso permite que se retirem todas as consequências políticas, incluindo a discussão sobre a continuidade de Sousa Real na liderança do PAN. “Só o órgão máximo do PAN tem o poder total para reerguer o partido e revalidar uma direção e a sua porta-voz, após a maior derrota eleitoral de sempre”, insistem.
Segundo as cartas de demissão a que o Expresso teve acesso, alguns membros demissionários lamentam ainda a “negação” dos resultados e a estratégia de “vitimização” por parte de Sousa Real, que não assumiu a “quota parte” de responsabilidade pela derrota eleitoral e refugiou-se na polémica das estufas e na alegada campanha da CAP contra o partido. “Deveria ter havido, por parte da porta-voz, a assunção inequívoca da sua quota parte de responsabilidade nos maus resultados, nomeadamente pela fragilização em que colocou o partido com as explicações, nunca convincentes, relativamente às notícias saídas na imprensa. O que, num partido transparente, levaria à colocação do respetivo lugar à disposição”, pode ler-se numa missiva.
Tal como o Expresso avançou na sexta-feira, Nelson Silva já tinha sido afastado da Comissão Política Permanente (CPP), órgão de gestão política quotidiana do partido, tendo o ainda deputado defendido logo na segunda-feira a realização de um Congresso extraordinário eletivo na sequência do desaire eleitoral. Depois de uma campanha solitária, sem a presença de ex-líderes e fundadores, a porta-voz do PAN fica, assim, cada vez mais isolada na direção.