Depois de um discurso em que Marcelo Rebelo de Sousa voltou a apelar à estabilidade e à “previsibilidade” da vida política e social do país, para depois exigir um “virar de página”, as primeiras reações dos partidos foram de concordância.
Por um lado, o PS, a quem é útil o discurso da importância da “estabilidade” para pedir uma maioria a que António Costa nunca chama “absoluta”, mas que agora já chamou “metade [dos votos] mais um”.
Por outro, o PSD, colocando-se como o protagonista do “virar de página” que Marcelo pediu. E, por último, o PCP, preocupado, como o Presidente da República, com a forma como será feita a utilização dos fundos europeus.
José Luís Carneiro foi o porta-voz da reação socialista e começou por puxar pelos galões para lembrar uma “outra página” que o país virou. “Conseguimos virar a página da austeridade em 2015 e agora é importante conseguir garantir que todos viramos a página desta pandemia”, concordou o secretário-geral adjunto do PS, que apontou a 2022 como o período para “assegurar o crescimento da economia” e “reforçar Portugal como um país de progresso e bem-estar”.
Recusando sempre responsabilidades pela crise política, o responsável do PS fez como Marcelo e sublinhou “três palavras” do discurso presidencial: estabilidade, previsibilidade e confiança. As duas primeiras “permitem a confiança de que o país precisa”, disse Luís Carneiro, já em tom pré-eleitoral.
Do lado oposto da barricada, há quem tenha ideias de como preencher essa nova página. “É obviamente com sentido de dever e com muita proximidade às palavras do Presidente da República que nos associamos a esta mensagem de virar de página”, disse André Coelho Lima. “Nós vamos para as eleições para as vencer protagonizando esse virar de página”, acrescentou o vice-presidente do PSD, de olhos postos no dia 30 de janeiro. “Como o PR disse: nós podemos fazer muito e muito mais.”
Além de pandemia e de soluções políticas estáveis, na mensagem de Ano Novo de 2022, o Presidente da República falou também de corrupção. Ou de como os fundos incluídos no PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), “que são irrepetíveis”, devem ser usados com “transparência, rigor” e “combatendo as corrupções e os favorecimentos ilícitos”. Ora, para o PCP, “aquilo que o senhor Presidente da República diz são evidências, de que é importante que o ano de 2022 dê um passo para que os problemas concretos das pessoas sejam resolvidos”.
O porta-voz comunista foi o deputado António Filipe, que lembrou que esses problemas concretos são os “que as pessoas sentem no dia a dia”, dos salários à habitação, e que, por isso, é fundamental que “os recursos disponíveis não sejam afogados em corrupção e em 'offshores'”, mas sirvam antes para promover o desenvolvimento do país e melhorar as condições de vida dos portugueses.