Seja em congresso ordinário, seja nesta versão extraordinária por imposição do Tribunal Constitucional, há coisas que se repetem nas reuniões magnas do Chega. O IV Congresso do partido, que decorreu entre sexta-feira e domingo em Viseu, não foi diferente. André Ventura voltou a adotar um tom messiânico, voltou a pedir a unidade do partido, voltou a ajoelhar-se (mas com a promessa de não se vergar), voltou a distribuir críticas a torto e a direito, isto é, da esquerda à direita, desta vez com a mira especialmente apontada ao PSD – ou ao "PS2", como passou a referir-se ao seu antigo partido. E voltou àquela retórica ambígua em que tanto se assume herdeiro de Sá Carneiro como acolhe bordões salazaristas. Ficou dito em Viseu: o Chega é o partido de "Deus, Pátria, Família... e Trabalho".
Ventura sai com poderes reforçados por força da moção estatutária que apresentou, aliás a única aprovada entre as três levadas a congresso. E, ao contrário do que aconteceu em setembro do ano passado, conseguiu ver a sua lista da direção eleita à primeira, com 85,3% dos votos, naquele que foi descrito como o melhor resultado de sempre. (Em Évora, só o conseguiu à terceira, insistindo em submeter à votação os mesmos nomes, apenas com um par de alterações cirúrgicas.) E continuou a elevar a fasquia: não apenas quer que o Chega seja a terceira força política como aponta para os 15% nas eleições legislativas de 30 de janeiro. Também não poupou António Costa: “Vamos atrás de ti! Não descansarei enquanto o PS não sair do Governo em Portugal.”
No discurso de encerramento, carregou no tal tom messiânico e lembrou que “nem Jesus agradou a todos”. Concedendo que o seu partido “falhou nalguns momentos”, garantiu que dará o seu melhor nas escolhas para as listas de deputados. E deixou pistas: irá escolher “os melhores, os mais leais e os que mais amam este partido e Portugal”. Tudo para “honrar o mandato sagrado” que diz ter-lhe sido confiado. Por isso, pediu um “juramento de sangue” e apelou: “Vamos ser o escudo uns dos outros.” “Eu sei que muitos têm dúvidas. É legítimo duvidarem de mim. O que vos peço é uma oportunidade para poder governar este país. É possível que eu cometa erros nas escolhas. O que vos peço é a confiança”, resumiu.