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Política

O plano Gouveia e Melo para a Marinha: sem “laxismo” e com ‘porta-drones’

Com críticas ao presente, vice-almirante escreveu programa para o futuro da Armada

JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Henrique Gouveia e Melo já disse que não era um “D. Sebastião” quando o plano das vacinas voltou a derrapar e se especulou sobre um regresso do vice-almirante aos comandos. Ele próprio assumiu que o seu papel, “enquanto militar”, não foi mais do que “ajudar a colocar um penso rápido na ferida”. Agora, passados dois meses sobre a sua saída da task force e sobre a tentativa de substituição do Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) por si, a Marinha vive uma situação inédita: um comandante pré-exonerado e a prazo, com um oficial general pré-apontado para o lugar à espera de uma decisão do poder político. No que diz respeito à Marinha, Gouveia e Melo nunca desdenhou ser esse “D. Sebastião” — não era segredo a sua ambição de chegar a CEMA —, tanto que, antes de se tornar a celebridade de hoje, escreveu um artigo nos “Cadernos Navais” do Centro de Estudos Estratégicos da Marinha com o seu projeto para a Armada. E esse plano não era apenas um “penso rápido”.

O estudo do vice-almirante — entretanto regressado ao posto anterior, como adjunto do planea­mento e coordenação do Estado-Maior-General das Forças Armadas — consiste num plano de ação sobre o que, na sua opinião, deve ser “uma Marinha útil e minimamente signi­ficativa para Portugal no início do século XXI”, e foi publicado em julho de 2019, quando Gouveia e Melo era comandante naval e um militar anónimo. Ao longo de 65 páginas, o antigo submarinista define como a Marinha deve contri­buir para as prioridades estratégicas de Portugal no Atlântico territorial, no mar do Norte, no Mediterrâneo e no golfo da Guiné: propõe mudanças de filosofia, faz críticas à organização, acusa a hierarquia de “laxismo”, aponta as fragatas como navios desatualizados, considera um “erro” a criação de uma Guarda Costeira (agora na GNR) e constata que o modelo do Arsenal do Alfeite não funciona.