Quando, na noite longa de quinta-feira, Rui Rio viu o Conselho Nacional do partido chumbar de forma expressiva a sua proposta de adiamento das eleições internas até que o Orçamento do Estado fosse votado, tudo parecia indicar que Rui Rio tinha perdido em casa e Paulo Rangel ganhava cada vez mais força no partido. Mas a decisão que seria tomada dias depois pelo líder do PSD foi outra: Rui Rio vai a jogo e vai precisamente com o objetivo de provar às bases do partido que quem votou contra esse adiamento, além de ser uma minoria no universo de votantes do PSD, não está a pensar no "interesse do país". E para candidato a primeiro-ministro, é preciso alguém que o faça.
Rui Rio "arriscou uma derrota no Conselho Nacional para ficar visível que estamos em luta interna a meio de uma crise política", diz uma fonte da direção ao Expresso, evidenciando que a manobra do adiamento das diretas tinha um objetivo definido à priori e vai manter-se. Caso o Orçamento chumbe, de facto, no próximo dia 27 de outubro, o plano mantém-se em nome do "interesse do país". "Por Portugal" foi, de resto, o título do comunicado que Salvador Malheiro enviou ontem a anunciar a decisão da recandidatura de Rui Rio.
É que, no entender da direção social-democrata, desde o dia 1 que Rui Rio tem uma forma de fazer política "diferente" e foi sempre vencendo as eleições internas do partido sem se desviar um milímetro dela. É isso que vai tentar fazer novamente, mesmo que seja acusado de orquestrar um "golpe palaciano" por querer ser candidato a primeiro-ministro numa eleições antecipadas que venham a surgir caso o Orçamento chumbe, e que poderão ser em janeiro - como disse Marcelo Rebelo de Sousa - antes mesmo de se clarificar a liderança do partido. "O mandato do presidente do partido termina a 12 de fevereiro de 2022", tem dito Salvador Malheiro.